FASHIONISMO

Olhar 43, lembram do olhar 43? Era uma forma de olhar, meio de lado, já saindo, como dizia a música do Paulo Ricardo. Eu passei horas em frente ao espelho tentando fazer aquele olhar, nunca consegui, eu acho, é que quando eu olhava pro espelho, já estava saindo, assim, meio de lado. O certo é que tentei fazer um olhar que eu nem sabia pra que servia, por que a música dizia e o jargão era uma novidade. Antes já havia tentado os passos do Travolta e as calças do fundão, aquelas que pareciam que o sujeito não teve tempo de chegar ao banheiro, e assim sobrevivi para constatar como eu fui ridículo. Provavelmente continuo sendo, só que agora um ridículo mais experiente que não consegue entender algo que praticou, se bem que, "desencanei" de moda muito cedo, por absoluta falta de "grana". Ser roqueiro era mais fácil, poderia reaproveitar o velho Jeans, transformá-lo em bolsas depois de estar super surrado, o mesmo acontecia com os tênis, que mal podiam ficar dentro de casa dado ao odor pouco "familiar", sem contar que roqueiro não precisa aprender dançar, roqueiros não dançam! Quanto mais mórbido e sinistro o visual, maior a criatividade, mais presença de estilo e menos gastos.

Essa foi uma grande sacada, só que vicia, mesmo com o advento dos anos, as indumentárias foram abrandadas, ganharam cores pastel sem que perdessem a alternatividade e a "pauleira" entrou no meu sangue como um vírus avassalador.

De alguma forma hoje não consigo mais relaxar, as cores que antes eram psicodélicas e faziam sentido, ganharam neon, brilho e "berro", os garotos tornaram-se andrógenos. Dia desses não consegui identificar alguém que entrou em minha loja, tinha cabelos laranja que combinavam com as calças e era esticado com se fosse um rabino de chapinha, usava óculos de uma cor inominável e brilho no rosto com uma "drag" jovial, falava grave, mas gesticulava como uma dama, eu não alcancei uma forma de me dirigir a ele ou ela... parece papo de coroa retrogrado, mas não é, não existe termo de ajuste ainda que me instrua como proceder nesse caso, nem de preconceituoso eu posso ser chamado, simplesmente porque não sei contra o que eu me situaria, talvez culpe o modismo excessivo, sim porque, alguém inventa essas coisas.

Fico imaginado uma dessas figuras acordando de manhã com um pijama furado indo à padaria, alguém por sua vez diz que é fashion, uma hora depois os fundilhos rotos estão estampados na "net" e o Brasil passa a produzir em escala absurda. A moda dos bolsos pra fora das bermudas, certamente surgiu porque alguém tentou aproveitar uma calça velha e a cortou curta demais expondo os bolsos, tornando-se uma epidemia nacional.

Temos em nossas mãos uma arma poderosíssima contra o afundamento do planeta, basta que o Luan Santana apareça fechando algumas torneiras, o Restart guarde o lixo no lugar certo, o Fresno entre no bar e rebeldemente peça um dublo de suco natural, basta esses novos "Telós" da vida, na sua condição de ídolos, assumirem que são horríveis, para o sinônimo da palavra ganhar novo sentido.

A androgenia ganhou corpo, talvez daqui a algum tempo eu seja preconceituado por me apresentar homem demais, apesar dos meus brincos, meu pai então seria um "ET". Tenho escrito alguns artigos nos quais apoio a evolução de leis, solicitando a mínima mudança de postura nas pessoas, postura essa que passa por desarmamento de conceitos, tolerância e aceitação de diferenças, logo, me sinto bem a vontade pra falar sobre esse assunto, já que evoluir no sentido de convivência e aceitação não significa seguir tendências por que a "globo" acha que esse deve ser o novo estereótipo do homem. Vejo com certa apreensão essa avalanche da moda gay, lógico que sua orientação sexual deve ser preservada sem contestação, porém, um garoto de 12 anos que assume publicamente uma postura homossexual, quando ainda não se definiu nem como pessoa, me parece precoce, infelizmente os mais renomados veículos de comunicação transformaram uma orientação sexual legítima em algo comercial, caricaturando pessoas, tramitando entre a futilidade e a chacota. A força da influência dessas mídias, eu conheço, poxa vida, eu achava que usar cigarros era "descolado", alguém se lembra dos comerciais de windsurf, carros de velocidade, paraquedismo... Hollywood "o sucesso", ainda tinha um som do Asia ou do Peter Frampton, aquele cowboy do Marlboro morreu de câncer no pulmão. Não pensem que essa campanha de desuso dos cigarros foi introduzida por causa da nobreza de caráter do governo, não, isso só tomou corpo por causa dos gastos do serviço de saúde pública que superaram os lucros obtidos com a venda do produto, sabe porque isso não acontece com o álcool? Porque existe companhia de seguros para aliviar a monstruosidade do trânsito.

Da forma como o processo está sendo conduzido pela imprensa comercial, já posso traçar uma linha de conduta dos mais atirados aos ditames da moda. Algum tempo atrás, na época do meu pai, por exemplo, ser gay era uma "senvergonisse", depois passou a ser encarado pela medicina como uma doença, na minha geração era uma opção, hoje entendemos ser uma orientação, perfeito, não precisa fazer disso uma nojenta forma de promoção, transformando algo absolutamente normal em tendência forçosa. A força da moda e tão pujante que já transformou ídolos em vilões e demônios em sábios, hoje vejo a cara do "Che" em concertos de rock e em torcidas de futebol, Jesus Cristo estampado no peito do estuprador, a suástica em camisetas amarelo bebê. Temo num futuro próximo que a tolerância hoje tão apregoada e que entendo salutar, nos conduza ao aceitamento compulsório de determinadas convenções fazendo com que a flexibilidade que temos por opção torne-se perniciosa e obrigatória.

Anderson du Valle

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 15/06/2012
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