Drogas, Governo e Sociedade

“Passa o que tu tem, vagabunda”. Foi a primeira frase que o jovem moreno, baixo, sujo, olhos vermelhos, roupas rasgadas e cabelos secos do sol, disse a jovem. Na hora a moça empalideceu. Os olhos lacrimejavam sem parar. Da boca não era possível sair uma palavra. Eram seis e meia da manhã e ela tinha ido comprar o pão para o café. A faca brilhava com a pouca luz do sol que varava entre os prédios. “Prostituta! Eu vou te furar". A moça entregou a carteira e o celular. O moleque saiu pedalando e conferindo os frutos de sua empreitada. As pernas da mulher tremiam e a única palavra pronunciada foi ouvida por um homem que assistia tudo do terceiro andar de um edifício e outro que passava de carro: “moços, eu fui roubada”.

Malditas Drogas. Viciam tanto e todos: o drogado não a larga; o traficante não quer se desfazer do monopólio; o governo não quer gastar e por isso não reconhece o problema como de saúde pública: - propagandas contra, e internações custam caro...e quem vai assustar o povo que da forma que está sempre corre aos braços do Estado pedindo socorro - como criancinhas choronas. E a sociedade? Como fica? Já está tão Viciada em discriminar e se vingar desses zumbis que tanto susto pregam. É um círculo de dependentes.

É bom detalhar melhor cada um neste esquema de miseráveis viciados cada um ao seu modo.

O traficante qualquer pede a comunidade que vote em deputado fulano de tal. Caso o seu pedido não seja aceito - da favela não apareça os votos contabilizados - as punições vão de expulsão do bairro a morte. Na negociação com o parlamentar, a não legalização das drogas. Já pensou um produto de tamanha valia vendido em cada farmácia; em cada quitanda; em supermercados. Tamanho poder do chefe daquela comunidade iria por água abaixo. O traficante pensa: vale os riscos da cadeia. Faz Mais um pedido ao legislador é que não aprove a pena de morte.

No gabinete executivo é discutido um projeto para legalização das drogas. Alguém sugere que depois de legalizado o governo trabalhe com campanhas conscientizatórias - propagandas na tv e nas escolas - tipo as que são feitas contra o cigarro. E que, ainda, se invista em tratamento aos dependentes químicos: mais hospitais, mais leitos, mais médicos. Na cabeceira da mesa, um homem argumenta que os custos superam os investidos em penitenciárias e em policiamento. E ironicamente ele sorrir e diz: “é atirar no pé: se há um problema e nos elegemos por conta dele, por que eliminá-lo? Se o drogado faz o eleitor vir nos pedir socorro, por que tratá-lo.

No sofá de sua casa. Assistindo a programação nobre da televisão. Um homem gordo com o copo cheio de coca-cola, batatas fritas e uma cerveja critica uma reportagem dessas que mostram um monte de viciados apanhando da polícia e sendo expulsos daquilo que se chama crakolândia - a reportagem segue com um desses intelectuais pedindo a legalização das drogas. “Onde já se viu. Pedir para legalizar maconha e outras besteiras. Só falta quererem que eu trabalhe junto de um maconheiro. Se esses desgraçados querem suprir seus vícios que se virem. Eu não ando com maconheiro".

Numa escola, um professor de matemática diz que quem defende as drogas deve usá-las; outro professor rebate dizendo que cachaça é liberada e nem por isso todos bebem - “é por isso que dizem que se dois matemáticos se casam há grandes chances dos filhos serem altistas”.

Numa obra, pedreiros e serventes expulsam um colega depois de tê-lo pego dando uma “tragadinha”. Bastante aborrecido, não tendo recebido nem o pagamento devido, e ainda tendo perdido o suprimento de seu vício de uma semana inteira, o rapaz pega sua bicicleta e sai solitário e bem a frente encontra uma jovem: “Passa o que tu tem, vagabunda”. O jovem moreno, baixo, sujo, olhos vermelhos e cabelos secos do sol, roupas rasgadas, grita. Na hora a moça empalidece. Os olhos lacrimejam sem parar. Da boca não sai uma palavra. Eram dez horas da manhã e ela tinha ido comprar o frango para o almoço. A faca brilhava. “Prostituta! Eu vou te furar”. A moça só entrega os trocados. O moleque crava a faca no peito dela e sai pedalando. Do terceiro andar de um edifício o homem gordo grita desesperado e só assiste sua filha morrer á distância.