Há (i)moralidade presente

Nada se compara às (hipócritas) marcações morais impostas pelos diversos ramos dessa nossa sociedade. Há tantos Sênecas por aí!... A doutrina da austeridade moral está à solta – por incrível que pareça, ainda nesse século! E apesar da censura “ter sido extinta”! Um beijo gay ainda é tabu, enquanto que sexo quase explícito (?) está nas cenas de filmes nas sessões da tarde e séries – em algumas emissoras... Ou ainda a violência, também explícita e barulhenta, presente em filmes e novelas, em quaisquer que sejam os horários e moldes de tevês...

Queria entender essas pseudo-doutrinas da fraternidade entre os homens e da remissão das ofensas... Igrejas e mais igrejas - templos de sabedoria - fazem o seu papel, e muitas, muito bem, entretanto, custam a encarar as "ramificações" da fé -aquela que não acompanha religião, mas é dotada de princípios morais e "religiosamente humanitários", só que não segue doutrina A ou B - mas se orgulham em enquadrar essa fé em categorias decrescentes, numa divisão matemática e antirreligiosa.

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É, de fato, emocionante vermos na mídia pessoas “moralmente capazes” em avaliar o sufoco desumano que acomete esses moradores de encostas soterrados fatal e materialmente; os sem-teto, sem dignidade de vida, sem nada; os que ficam sob o luar, enquanto o fogo lhes devora o único lar a que tiveram direito na vida miserável... (e todos os quais recebem ajuda em forma de cestas básicas a curar-lhes o mal da miséria... E nós nos emocionamos com isso.) É. Mas não somos Sêneca, de alma virtuosa e compassiva ante a brutalidade dos espetáculos públicos daquela época, quando, gladiadores recrutados entre os escravos e criminosos prisioneiros de guerra ou não, estripavam-se mutuamente nas arenas do Coliseu... Hoje, o Coliseu é ruína, mas seu significado histórico ganhou uma abrangência inimputável: os lares, as praças públicas, escolas, bailes funks, boates, campos de futebol, entre outros, viraram Coliseus... Nós somos os nossos inimigos nessa turba enlouquecida por algo que nem ao menos decodificamos o que é. O povo está tão sem destino que acaba endeusando um Ministro (competentíssimo, diga-se de passagem) que não faz mais que a sua obrigação: ser justo. Reto nos seus julgamentos. Cumpridor da função a qual é pago para cumprir... (O problema é que estávamos sem heróis...). O povo, assim como os gladiadores com seus destinos manipulados pelos poderosos (e que tanto assustavam a Sêneca), acaba achando normal viver assim. À custa de esmolas materiais, vai se deixando levar – “sem lenço e sem documento... caminhando contra o vento.” [...]