Mídia Transforma Bandidos em Pseudocelebridades

A forma cinematográfica, hollywoodiana, que a mídia, principalmente a televisão, dá, com intenso destaque, ao cenário do cotidiano da criminalidade, desde os furtos mais simples aos crimes hediondos e, notadamente, a ampla violência do narcotráfico, tem transformado bandidos em pseudocelebridades televisivas. Esta predileção pelo noticiário policial, conciliada à violência dos jogos infantis e aos filmes da programação das telinhas e dos telões, vem contribuindo assustadoramente com a agressividade infanto – juvenil , especialmente dos jovens menos favorecidos, cultural e intelectualmente, e, mais severamente, dos jovens iniciados na bandidagem, cujos treinamentos passam pelo cumprimento de missões delituosas, que envolvem assaltos, ataques a postos policiais e assassinatos, não raros, também de policiais, como está ocorrendo diariamente na cidade de São Paulo. Isto tudo, gradua o deliquente iniciante, sobretudo no narcotráfico. Não é de hoje que a sociedade vem reivindicando melhoria da educação, da distribuição de renda e maior responsabilidade dos veículos de comunicação. O que recebemos é uma degradação moral das nossas instituições, com o menosprezo e descaso para com os professores, disseminação de escolas fajutas, uma mobilidade social vista apenas pela elevação da capacidade de consumo, protagonizada por indivíduos sem acesso à educação, viciados no sistema do ter sem ser, a que se soma a banalização de valores, o mau exemplo da classe política e a corrupção das autoridades de diversos e nos diversos níveis do poder.

Com tudo isto, nasce um perverso sistema que despersonaliza a responsabilidade, imputando-se a culpa de forma genérica, impessoal. A culpa é dos políticos, é do mercado, da polícia, do governo, do sistema, . . . é da violência!

Prescinde nosso país de uma consciência coletiva, solidária, que nos imunize do sentimento da vantagem pessoal a qualquer preço e da impunidade alimentada mais pela misericórdia com o agressor do que com a vítima ou sua família.

Enquanto isto não ocorre, ouviremos um pobre coitado, arrebatado pela miséria e pelo vício, filho da exclusão social, gritar num canteiro qualquer da cidade, como se referisse a heróis: - Eu sou o Macarrão, eu sou o Bola, o Bruno! Sendo estes, recentes protagonistas de um crime hediondo que chocou todo o Brasil.

Nota: Este texto foi publicado também no jornal Folha de São Paulo na Seção - Painel do Leitor -, de 26-11-2012.

E nos sites: Primeiro Conceito - Sociologia para Todos. http://www.primeiroconceito.com.br/site/ na mesma data.

http://curiosidadesocultas.blogspot.com.br/2012_11_01_archive.html

Di Amaral
Enviado por Di Amaral em 27/11/2012
Reeditado em 28/01/2013
Código do texto: T4006745
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