Série Crônicas do Trânsito: A travessia

Não há dúvidas que, a despeito das muitas reclamações ainda existentes acerca de nossas relações no trânsito, melhorou a forma como os condutores de veículos compartilham espaços no fluxo dos transportes terrestres das médias e grandes cidades – a despeito de que, nas pequenas, a disputa por pequenos espaços entre transeuntes e veículos tenha provocado muitos acidentes.

Na Índia, mesmo que, em Bombaim, os indianos convivam com o que os ocidentais chamam de “caos” no tráfego entre pedestres, carroças, lambretas, ônibus, carros e animais, há poucos acidentes de trânsito! – um dos muitos feitos entre ditos milenares que os orientais costumam produzir para expressar a paradoxal harmonia da totalidade do Cosmos onde, do fundo do Ganges até o último buraco-negro, passando pelos antigos semáforos da Tchecoslováquia, tudo e todos estão inseridos – hoje as aeronaves abundam singrando o céu da Terra a fazerem cada vez mais próximas (no tempo) outras terras d’além-mares, estando mesmo modernos “Argonautas” mais próximos de conquistarem terras d’além-céus.

Considerando o espaço físico cotidiano onde nós, motoristas, nos encontramos todos os dias em idas e vindas, penso que, apesar de alguns eventuais acidentes e engarrafamentos, sigo mais rápido e tranquilo pelas estradas que, com seus atalhos, partindo de todos os sertões e veredas, podem nos levar a Roma, como a qualquer outra parte do mundo – a despeito do número excessivo de carros em circulação, e outros transportes pesados, a nos dizer que deveríamos considerar os benefícios de caminhadas e pedaladas, naturalmente, em áreas reservadas para as tais.

A despeito de muitos pensarem que não deveríamos precisar nos distanciar de casa mais de duzentos metros, entre as distâncias que precisamos ainda percorrer em busca do “Pássaro Azul da felicidade” – que, como pretende a estória nos lembrar, pode mesmo estar ao nosso lado (ou, mais acertadamente, “dentro de nós”) – muitos haverão de usar carros e, num futuro próximo, ônibus espaciais a sentirem o que sentiram aqueles dois astronautas que, partindo da Terra num foguete, pisaram enfim no solo da Lua, um dos muitos lugares ermos do céu.

Voltando a Terra, e para dizer sobre o título deste, durante a campanha de educação para o trânsito, proposta por governantes de outrora – tendo sido a Rede Globo de Televisão determinante a influências na melhoria das relações no trânsito entre pedestres e motoristas de todo Brasil a cada um de seus muitos plim-plins de outrora – durante a campanha, então, idealizei (embora não o tenha realizado) um vídeo à orientação dos motoristas quanto a necessidade do respeito ao direito dos transeuntes de atravessarem uma grande avenida utilizando as faixas de pedestres, tanto quanto da obrigação dos motoristas a dar-lhes passagens – embora muitas faixas tenham sido instaladas em locais inapropriados e muitas pessoas ainda insistam em desprezá-las.

Dessa forma, idealizei o vídeo, onde, plantada na calçada à espera de uma alma caridosa, uma velha trêmula aguarda atravessar a avenida pela faixa, sem que nenhum motorista se disponha a dar-lhe passagem.

De repente, ao lado dela, surge uma morena exuberante, trajada com o melhor modelo de vestido do estilo “me coma”. E então, depois de uma freada geral, todos os carros em velocidade se arrastam, cantando os pneus até o limite da faixa, enquanto os motoristas, descendo dos carros e assobiando à bela, apreciam extasiados o desfile da morena pela faixa de pedestres até o outro lado da rua, seguida pela velhinha a quem, ainda, ninguém dá a menor atenção.

Mas, mesmo sem ter realizado o vídeo que, ao mesmo tempo, pretendia dizer sobre o respeito que devemos ter ao pedestre e aos idosos, além dos defeitos das faixas aqui mencionados – entre outros ajustes que precisam ser feitos à melhoria no fluxo do trânsito na capital paraibana – graças a todas as campanhas e de nossa capacidade de evolução, devo agradecer aos meus companheiros motoristas pela atual boa convivência cotidiana, embora, a despeito de também terem diminuído, se Presidente fosse (e se, sendo Presidente, tivesse mesmo algum poder), proibiria as indústrias automobilísticas de instalar buzinas nos veículos, além de estabelecer que, além dos carros de corrida, apenas carros da Polícia pudessem atingir a velocidade de 300 km por hora.