Prosperidades

A gente costuma (ou costumava) dizer Feliz Natal e Próspero Ano Novo.

Daí poderíamos lembrar que a prosperidade pode estar relacionada a algo que se conquista, independentemente de nossa vontade. Que prolifera à margem do nosso controle. Mas pode também ser consequência das nossas interferências, muitas vezes de braços dados com procedimentos que não teriam chances de prosperar de uma forma natural.

Seriam ambas prosperidades provocadas. Uma de forma não intencional. Que acontece e nos surpreende. A outra, por exemplo, podendo estar sujeita a um estudo de viabilidade econômica. Ou a obtenção de um mandato parlamentar. Ou a um plano cuidadosamente concebido por um empresário que provoca a falência da própria empresa e foge depois para o exterior com a renda que acumulou.

Nos dias de hoje – tanto quanto acontecia nos de ontem – os dois tipos de prosperidades são desejáveis. Se podem ser projetadas ou não, não vem muito ao caso. Desde que acabem por nos situar numa condição de vida normalmente ocupada por poucos. De um modo geral "vida" entendida aqui sob o ponto de vista material. Mas aí, sim, mais de acordo com os dias de hoje, quando o importante é "ter", e não "ser".

De qualquer modo, romantismos de lado, não se afigura cabível a preferência por um tipo de prosperidade – essa é melhor que aquela, é mais correta ou lícita. Muitos magnatas do petróleo são tidos como verdadeiros heróis, pois tiveram que enfrentar e vencer um leão por dia para chegarem à posição que ocupam. São exemplos para os nossos filhos, ainda que tenham colaborado com todo tipo de manipulação ilícita para o aumento de suas ações na Bolsa. Ou prejudicado o próprio país em que nasceu favorecendo os interesses de nações mais poderosas.

Não interessa. São prósperos. A outros a prosperidade não os alcança em vida. É póstuma. Em que pese o sucesso da casa Zicartola, no breve espaço da sua existência, o empreendimento não trouxe ao compositor uma situação econômica invejável. O que é concebível, pois dificilmente se coadunam o raro talento poético de um compositor com a sua capacidade empreendedorística. Mas a prosperidade de Cartola, como a de Noel Rosa e muitos outros, não se pode medir no tempo. Ou ser aferida em termos pecuniários. E jamais poderia ter sido planejada.

Contudo, é uma prosperidade que todos reconhecemos e muitos ainda hão de reconhecer. Muito embora aqueles que a provocaram não tenham tido grandes chances de a experimentar. Ao passo que as prosperidades do outro tipo, ainda que não possam ser desconsideradas, têm a marca flagrante da perenidade. E, não raro, acabam passando despercebidas.

Rio, 03/01/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 04/01/2013
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