Combate equilibrado

Combate equilibrado

Juliano e Sandra são casados há seis meses, trabalham juntos, mas não possuem conta corrente conjunta. Cada um deles controla duas contas, totalizando quatro bancos. E aí reside o principal incômodo de suas vidas, ao retornarem para o lar à noite.

Não bastando o montante que estas instituições financeiras arrecadam com as altas taxas sobre os serviços oferecidos aos seus clientes (que trabalham para eles via caixa eletrônico), ainda passam vários dias da semana telefonando para oferecer cartões de crédito com 30 funções das quais apenas umas 4 nos são úteis. Também tentam nos empurrar financiamentos de longo prazo com altos juros para aquisição de diversos bens de consumo e títulos de capitalização onde ocorrem sorteios que nem sempre tomamos conhecimento. Fora os empréstimos consignados que emagrecem nossos “holerites”.

Tal situação se agravou com os telefonemas de dezenas de entidades “protetoras” de criancinhas, idosos e animais abandonados até mesmo fora de nosso país!

Depois de meses sendo massacrados por belas vozes femininas no sentido de assumirem os produtos oferecidos, Juliano resolveu entrar para valer no combate a este “spam” que não tinha dia nem hora para acontecer. Era sentar para jantar ou assistir um programa de tv e o telefone interrompia o lazer familiar. Para não serem mal educados, ouviam toda a ladainha e só conseguiam se livrar da “sarna” quando lhes ocorria uma desculpa do tipo “a sogra queimou o dedo no fogão” para desligarem o aparelho com certa urgência.

Juliano adquiriu um aparelho telefônico com visor e contratou o serviço de identificação de chamada. Comprou um pequeno gravador K7 de 2ª. mão e colocou seu plano maquiavélico em ação.

Juliano relacionou os números dos chatos freqüentes. Agora, quando o seu telefone toca, ele confere a lista. Se for um deles (que também ligam de outro Estado), ele atende a ligação com imensa alegria, saboreando a deliciosa “batalha” que será iniciada. A seguir liga o K7 e o encosta ao telefone, para que o “inimigo” escute a seguinte mensagem que sua esposa gravou com voz melodiosa (tipo Isis Letiere):

“- Se você deseja oferecer algum serviço bancário, disque 24. Se deseja solicitar algum auxílio monetário, disque 69. Se desejar falar com nosso papagaio mordomo amestrado, disque 2469 e aguarde 15 minutos”.

Depois deste texto, irrompe uma canção tocada em programa infantil de tv modelo “ilailariê ôôô” com 90 segundos de duração. Certamente a chata abandona a “arena” cinco segundos depois. A seguir, Juliano desliga seu aparelho com enorme satisfação pela safadeza retribuída e reposiciona o K7 no início da mensagem, torcendo para que outra desavisada faça contato.

As ligações indesejadas estão se tornando menos freqüentes (foram 14 em apenas um mês), para decepção do casal. Mas eles pretendem espalhar a idéia na vizinhança, alugando seu K7. Se o processo tiver boa aceitação, talvez criem uma empresa para ampliar tal “serviço” pelos lares dos atacados por esta avalanche dos que tentam nos subtrair o pouco que nos sobra do apertado orçamento mensal.

A materialização desta peça de ficção (simples de concretizar) pode ser vista no seguinte endereço:

http://www.youtube.com/watch?v=OUT3KmfpHXk

Haroldo P. Barboza

Informática a domicílio

Autor do livro: Brinque e cresça feliz.