SlutWalk - A marcha das vadias

Recentemente li sobre uma mobilização mundial chamada “Marcha das Vadias”.
O Brasil também teve sua versão, e o evento, ocorrido em maio de 2012 em Brasília, reuniu milhares de mulheres (e homens).
O nome “Marcha das Vadias” soa agressivo, pelo menos para mim. Tirar o contexto pejorativo da palavra “vadia” é uma missão quase impossível... para mim.
A “Marcha das Vadias” foi iniciada na cidade de Toronto, Canadá em 2011. Nesse ano, uma palestra sobre estupro, mais propriamente sobre como impedir estupros, foi agraciada com um comentário totalmente despropositado de um policial que perdeu a grande oportunidade de ficar de boca fechada.
Segundo ele, “se as estudantes quisessem evitar serem estupradas, que parassem de se vestir feito vadias para assim, não serem possíveis vitimas de assédio sexual”.
Neste caso, a culpa não é do bandido, mas sim da vítima. Cômodo, não?
É o mesmo que dizer que se não quiser ser morto, evite ficar vivo.
Uma questão a ser levantada é: o que é se vestir de forma provocante?
Decotes absurdos, sais curtas e saltos altos? Ou saias compridas e vestidos amplos?
No imaginário masculino (e feminino), pode ser as duas coisas. Até o grotesco às vezes atrai.
No entanto, há visuais que se tornaram personificação da mulher “fácil”. Aos olhos de quem? De todos, homens e mulheres, hipocrisia também à parte.
Temos a tendência a julgar, a apontar e a enquadrar, ou não temos?
Isto, no entanto, justifica algum crime?
É possível julgar, violentar e se eximir da culpa porque o outro foi o provocador?
E se fosse um homicídio ao invés de um estupro? A vítima baleada na cabeça seria a culpada de ter “provocado” o seu assassino que seria então, libertado por sucumbir à provocação?
E a ótica de homens que pensam como o tal policial? Se a mulher se veste de forma provocante e é “fácil” então porque o estupro precisa acontecer? Ela não estaria disponível?
Imbecilidade à parte, justificar delitos com base no ato de outros é uma das formas mais antigas da humanidade para justificar a falta de caráter.
Não faço apologia a movimento algum.
Confesso que li o artigo e escrevo sobre ele pois fui surpreendida primeiro pelo nome da marcha e depois pelo seu conteúdo.
Também não acredito que milhares de pessoas com o corpo à mostra e frases chocantes seja a melhor forma de conseguir alguma coisa. Mas esta é uma opinião individual e isolada de quem apenas leu um artigo, nada mais.
Por outro lado, é inquestionável que alguma coisa precisa ser feita.
No Brasil, de 1990 a 2010, os crimes de violência contra a mulher aumentaram cerca de 200%. Isto em um país onde as mulheres circulam livremente, ocupam posições de destaque no mundo corporativo, inundam as universidades e são chefes de família em um expressivo número de lares.
Imaginar o que a mulher sofre em países onde é objeto de barganha, precisa andar coberta da cabeça aos pés e pode ser espancada por acidentalmente deixar o tornozelo à mostra é impossível para mim.
Intolerância, ignorância, incompreensão.
A minha sugestão é que se volte a aplicar o código de Hamurabi e da lex talionis que defende dentre outras coisas, a reciprocidade do crime.
Violência não se trata com violência, é fato, mas vamos combinar, o modelo atual parece que não funciona muito bem.
Enquanto houver impunidade, comutação de penas, tolerância com bandidos, defensores corruptos, leis que favorecem os crimes, teremos que tentar de tudo para sobreviver.
Até marchas com nomes sugestivos.


 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 21/01/2013
Código do texto: T4096746
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