Os brinquedos das crianças

OS BRINQUEDOS DAS CRIANÇAS

Antônio Mesquita Galvão

O efeito de um brinquedo sempre teve um toque mágico sobre o imaginário de todas as crianças. Qual o adulto hoje não se deslumbrou diante de um pacote colorido que antevia o prazer de um presente?

Um brinquedo geralmente traz consigo algumas implicações afetivas, históricas, emocionais, culturais e, sobretudo de sociabilidade. Por estas razões cria aquele espírito de fascínio que arrebata – ou pelo menos arrebatava – as crianças.

Eu lembro que na primeira fase da minha infância, lá pelos idos da década de 40 os brinquedos não eram sofisticados, havia carrinhos de madeira ou de lata, e coisas mais simples como piões, cordas de pular e joguinhos de armar, etc. A gente era criança e gostava de brincar. Depois, vieram os brinquedos melhores, os trens elétricos, bolas de futebol, raquetes, bicicletas, livros, jogos, etc. E para as meninas havia bonecas temáticas, artefatos de cozinha, balanços, etc. Naquele tempo os brinquedos divertiam as crianças, tinham uma característica associativa e participavam de sua construção psicossocial. No passado os pais aterrorizavam as crianças com cantigas do tipo “bicho-papão”. Agora os filhos alarmam os pais com a materialização dos monstros dos playstation. Os psiquiatras americanos apontam a violência desses “jogos mortais” como motivação para as chacinas.

Hoje os objetivos associativos e psicossociais foram para o espaço. Não existem mais crianças. Pais e educadores idealizaram uma faixa etária dos 10 aos 20 anos, a que chamam de adolescentes. Deste modo fica complicado dar um presente para um desses nerds. Se você der um joguinho ele vai olhar com cara de desprezo, colocar de lado e nunca vai abrir a caixa. Eu recordo que costumava presentear meu filho e afilhados com bolas de futebol, raquetes de tênis e livros. Coisas em desuso hoje. O que eles gostam hoje é tênis, de marca, caríssimos e equipamentos eletrônicos, obsoletos a cada dois meses. Já escutei alguém chamar esses sabichões de “anões intelectuais” que pensam saber tudo, mas esquecem o essencial, que é conviver. Dez em técnica e zero em humanismo. As famílias dividem a culpa com a mídia.

Os jovens de hoje – que não gostam de ser chamados de crianças – tem fixação pelos celulares de última geração, que além de telefone, englobam máquina fotográfica, GPs. acesso à internet (I-Phone, I-Pod, I-Pad), jogos (em geral com programas ruidosos e violentos) além de sintonizadores de tevê e música (MP3, MP4 e outros). Aonde você for tem um jovem, ou uma tribo deles, todos de aparelhos na mão, ligados naquilo que eles chamam de “tecnologia da comunicação”, embora não se comuniquem uns com os outros, nem com as famílias. Essa “tecnologia” está criando pessoas solitárias e indiferentes que imaginam que tudo cai do céu, ou melhor, dos tais aparelhinhos. Onde andam os brinquedos das crianças? Que resposta dará essa geração, no futuro?

Filósofo e Doutor em Teologia Moral