O preço de uma Carta na Ditadura Militar...

Certa vez, após ouvir colegas bem mais idosos do Arsenal de Marinha, quando era eletricista civil da Marinha de Guerra, constatei que muitos direitos trabalhistas e mesmo a CIPA não funcionavam nas oficinas, na manutenção e carreira de navios de Guerra e nem no hospital militar onde trabalhavam varios civis...

Verifiquei, também que nem a periculosidade pagavam aos servidores, então decidi escrever uma carta ao Ministro da Marinha Almirante de Esquadra Alfredo Karam, como o tempo "fechou" na visita do Ministro a Ladário, para mim é claro! ( quase fui preso pelo serviço reservado e segurança ), decidi após ser aconselhado por um velho sargento e amigo, procurar outra pessoa para entregar a carta e foi assim, que pedi ao Dr. Fadah Gattas que, não sabia direito o que eu pretendia, mas assumiu o compromisso de entregar a carta na cerimonia do Corumbaense Footebol Clube, onde fariam homenagens ao Ministro em sua visita a Corumbá.

É bom lembrar, que no dia da cerimonia sai escondido pelo muro dos fundos da Marinha e consegui escapar da segurança, tive apoio de amigos solidários que jurei jamais revelar os nomes. Fui até a chamada mixta e acabei indo pra Corumbá em uma pequena lancha, pois pegar o onibus da Ladarense pra Corumbá seria arriscado naquele dia.

Alguns dias depois, recebi a carta de resposta do Ministro em minha casa, aliás duas cartas: Uma agradecendo o livro de poesia ASAS DO TEMPO de minha autoria que mandei junto a outra falando da revindicação que fiz.

Fiquei feliz em ter conseguido encaminhar a carta e agradecido ao Dr. Fadah que era prefeito de Corumbá e cumpriu a sua palavra, mas passei a partir dai a ser duramente perseguido dentro do Arsenal, abriram um processo administrativo e estavam induzindo varios colegas civis "mais frágeis" a afirmar que eu estava promovendo "motim", chegaram a firmar que eu era subversivo e acabei sendo obrigado a pedir exoneração em 1986. Até hoje luto por anistia e reparação, por esta e por outras punições que recebi...

Mais tarde, após perícia do Ministério do Trabalho e visita de Dr.Celso Pereira Chefe do Ministério do Trabalho no Estado, a Marinha do Brasil decidiu pagar a periculosidade e os atrasados a todos os civis da Area e de outras unidades...Detalhe: Fui o único que além de perder o emprego, não recebi um centavo da periculosidade.

Assim, antes de escrever uma carta a uma autoridade, devemos estar preparados para tudo no Brasil....É claro isso se deu na década de 1980, nos ultimos anos da transição Figueiredo/Sarney....

Uma passagem daquilo que os jovens chamavam de passagem da ditadura pra dita-mole....pois a ditadura ainda continua em muitas praticas em nosso país e o sarney esta ai até hoje!!!

Pra refrescar a memórea é bom saber que este senhor senador Sarney era o mesmo lider do PDS partido da ditadura militar no congresso nos anos dos generais-presidentes....