VIDAS DIFÍCEIS

Eu estava aqui pensando nas atitudes de alguns bombeiros. A pergunta é uma arte e eu me perguntei: "Por que aquele bombeiro se insinuou para mim daquele jeito se eu não sou e nem pareço ser uma qualquer?" E, aqui no meu quarto, longe da loucura de Fortaleza, pude dormir melhor, pude pensar com calma e pude analisar também. Eu perguntei para mim mesma se ele é um "cabra safado". Bem, assim como foi precipitado da parte dele falar bobagens repetidas vezes, e precipitou-se com sua sinestesia exagerada para comigo tentando me seduzir, sabe Deus o motivo, seria precipitado de minha parte dizer: "Ele é um cabra safado!" A pergunta é uma arte e a empatia é um dom. O militar se doa, se arrisca e não importa o quanto receba em salário, a compensação para ele não é financeira. Ele me disse que a vida de militar é muito difícil e eu sei o que ele quis dizer. Eu sou uma pessoa que faz qualquer coisa por uma boa causa. Sou Professora! Não raras vezes me arrisquei, me doei, e só recebi ingratidão em troca. Eu estive no Corpo de Bombeiros à procura de um Major para lhe mostrar um projeto social e fui assediada por um Cabo. Fiz o Termo de Declaração contra o mesmo e ele me procurou aflito, arrependido, e me pedindo desculpas. Implorou para que eu comunicasse aos seus superiores que ele foi se retratar comigo e assim o fiz... No entanto, seu chefe imediato disse que iria levar o caso adiante. Com medo de ser injusta e de contrair um inimigo, escrevi uma carta retirando a queixa. Levei em consideração as vezes em que, geralmente, empolgada por sair ilesa de uma situação de risco, cometi alguns excessos e fui perdoada. Claro que nunca cometi assédio sexual, mas, já fiz coisas que, ao me lembrar depois, paro e penso: "Meu Deus, por que fui tão idiota?" A resposta é: "Porque você é humana." Eu perdi a conta de quantas vezes fiz o bem pra um monte de gente e estava sendo cruel comigo. Não conto as vezes em que, andando na rua murmurei: "Preciso de uma compensação para minha vida" _ ou seja, queria colo. Queria beijo, abraço, carinho, cama... Mas, só tinha (e tenho) os filhos dos outros para cuidar. Vida de professor também é muito difícil e mal remunerada. Já separei briga de alunos, já acalmei ânimos adolescentes alterados, aluno querendo matar colega; desarmei crianças em sala de aula, enfrentei mãe com peixeira na cintura, aluno drogado, ex-aluno morrendo para roubar ferro e trocar por crack e já fui ameaçada de morte por um aluno só porque mandei entrar para a sala de aula. Ganho beijos e abraços e carinho, cartinhas e presentes das crianças... Isso é bom, mas o meu lado mulher me cobra um homem para aliviar tensões e dividir vitórias. Estou diariamente carente e preciso me conter por causa do alto preço de ser quem sou. Os bombeiros militares dão a vida em troca da vida de desconhecidos. Enfrentam todo tipo de problema que o ser humano é capaz de lhes dar. Absorvem as loucuras dos suicidas, outros, que desafiam os perigos dos mares, tocam fogo em tudo e eles lá estão para suprir as necessidades dos filhos das mães, imprudentes, irresponsáveis, mas, humanos. Todos com problemas sexuais, buscando uma compensação para suas vidas difíceis. Em casos extremos, sentem-se tentados a recompensar por si mesmos suas vidas nada compensadas. Então, nesse dia, o Cabo que me assediou tinha ido apagar um incêndio no Pão de Açúcar às 4:00h com o tal Major. Foi uma missão bem sucedida, graças a Deus. Ele não pensou no preço a pagar por ser o que é; simplesmente, buscou a compensação para sua vida difícil com a pessoa errada: Eu, a prima do Major! Ele me jurou de pé junto que nunca mais fará o que fez, com nenhuma outra pessoa. Espero que tenha aprendido a lição.

Jornal O POVO on line – 13/03/2012 - Artigo

Solange Guimarães
Enviado por Solange Guimarães em 01/02/2013
Código do texto: T4117995
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