As pessoas são constituídas na família - Carta 045

As pessoas são construídas na família

Uma senhora de Canoas, militante na “pastoral familiar” solicita

subsídios para uma palestra sobre família e amor.

Prezada amiga,

É comum escutar que a família é construída a partir das pessoas, pais, filhos, avós, netos, sobrinhos, etc., ligados por laços históricos, culturais, de parentesco sanguíneo ou não. Esta afirmação tem fundamento até certo ponto, pois não existe família sem pessoas. No entanto, é salutar observarmos que é a partir da família biológica, ou melhor, de sua otimização que vai começar a construção e o crescimento das pessoas. Tudo se inicia pela constatação de que a família, muitas vezes é composta de pessoas tão desiguais, com características psicossociais sociais díspares.

O casal, por exemplo, ao criar uma família, reúne duas pessoas que têm histórias diferentes. Nesse particular a família – embora exceções – reúne aspectos constitutivos, como o afetivo, o relacional, o sociológico, o psicológico, o econômico, o cultural e o romântico. Uma família se compõe, entre outros fatores, do afetivo, do biológico e do relacional.

Quando o poeta afirmou que dentre as coisas que catalisaram sua vida foi o aconchego do lar paterno, ele recordou a força de uma formação psicossocial que se organiza a partir da família bem estruturada, capaz de construir pessoas com base no amor, no respeito e na liberdade. Isto não é utopia, pois o inverso é verdadeiro, onde pessoas sem estrutura são fruto de famílias incapazes de qualquer tipo de construção afetiva. Pode haver diferenças, mas a regra geral é esta.

O verbo que move a construção das pessoas é amar, que, como falar, caminhar e trabalhar precisa ser começado, desenvolvido. Trata-se de um verbo ativo que não admite passividade ou acomodação. De fato, amor não é só sentimento, como dizem alguns: “Eu só vou amar quando começar a sentir...”. Não! Deve-se buscar o amor a partir do primeiro passo. Se eu não começo a amar nunca vou sentir nada.

O amar traz à construção de uma família a compreensão, o apoio, a confiança, a liberdade. Eu e minha mulher sempre dizemos que a gente “se suporta” um ao outro, não no sentido de aturar, mas de “dar suporte” nas diversas circunstâncias de nossa vida. Para que a construção seja sólida, como uma “casa sobre a rocha” é preciso o interesse e o perdão. Não se trata de uma atitude leviana e comodista. Perdoar, do latim per donare (dar para), é dar alguma coisa a quem precisa.

Se alguém me ofende se torna meu devedor. Quando eu perdôo uma pessoa, a dívida fica quitada. A “matéria prima” do perdão é o erro do outro. Porque erramos Deus nos dá seu perdão. Nesse particular, perdoar se subdivide em vários atos, como vontade, generosidade e consciência. Na busca da construção das pessoas a partir do contexto familiar é importante sempre reconstruir (se).

Um abraço

O autor é Doutor em Teologia Moral. Especialista na temática

familiar, escreveu vários livros, entre eles “Quer casar comigo?”

(Paulinas), “A família modelo” (Loyola), “A casa sobre a rocha”

(Vozes) e “Vivência e convivência” (Recado).