ÁLCOOL: uma droga permitida

É carnaval. A maior festa popular brasileira. E como de praxe, será regada a muita bebida alcoólica, a grande vedete dessa e de tantas outras festas. Os camarotes mais disputados nos circuitos carnavalescos são aqueles patrocinados pelas cervejarias. Os formadores de opinião estarão lá, vestidos a caráter, exibindo a marca de seus patrocinadores. Divertem-se, ganham altos cachês e incitam o consumo. Tudo muito lícito e divertido. Será? Artistas como o cantor Zeca Pagodinho, assumidamente um beberrão (sem desmerecê-lo), e tantos outros que ganham dinheiro fazendo propaganda de cerveja não colaboram na formação de um padrão de comportamento inadequado entre os jovens? Acredito que sim.

Cantores sertanejos também resolveram fazer verdadeira apologia à bebida alcoólica. Ouço tantas músicas falando sobre esse tema que tenho me perguntado se os compositores fazem propaganda gratuita ou são patrocinados pelas empresas de bebidas. Não que esta prática seja só dos sertanejos ou dos cantores atuais, pois a bebida sempre esteve nas músicas como algo poético e romântico. Acabei de me lembrar de uma marchinha bem antiga. Quem não se lembra de “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí. Se não me dar, vou beber até cair. Me dá, me dá, me dá um dinheiro aí!”. Compositores e intérpretes, desde Tonico e Tinoco a Leonardo, cantam a “marvada pinga”, como refrão necessário aos nossos ouvidos.

Por outro lado, os comerciais da TV estão cada vez mais explícitos. Descaradamente tentam nos convencer de que tudo é permitido ou possível para quem consome tal ou tal bebida e por obrigatoriedade apresentam a frase “Beba com moderação”. Como beber com moderação se os comerciais incentivam beber ao extremo? Não há censura para tal. Os jovens, maiores alvos dessas campanhas, atribuem o uso do álcool ao lazer prazeroso, à aceitação dos amigos, à conquista de belas mulheres e são levados realmente a crer nisso. E de nada adianta criar leis para não vender bebidas alcoólicas para adolescentes, fiscalizar bares e lanchonetes, fazer campanhas educativas, se a mídia mostra o álcool como o néctar dos deuses! Se seus artistas preferidos os incitam a beber todos os dias, por todos os motivos e em todos os lugares.

No interior do Estado o estímulo ao uso do álcool acaba sendo maior devido à falta de opção de lazer. Não há acesso à cultura ou outras formas de diversão, apenas a propagação de bares, boates e botecos. Um verdadeiro “bbb” do alcoolismo. E a dobradinha álcool e motocicleta tem ceifado a vida de inúmeros jovens em nossa região. Aqui em Iraporanga existe até a cavalgada alcoológica. Jovens e adultos se reúnem uma vez por ano e sobem a serra numa bela cavalgada, desnecessariamente regada a bebida. Poderia ser muito bonito e pitoresco se não fosse extremamente desastroso para muitos jovens no futuro.

“Segundo Fernanda Vidal, psicóloga do Núcleo Einstein Álcool e Drogas (NEAD) do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), o álcool é um dos grandes causadores de dependência entre os jovens e o segundo principal problema de saúde pública no Brasil, perdendo somente para o tabaco. E o consumo começa cada vez mais cedo. Uma pesquisa do Centro Brasileiro sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Unifesp, revela que 42% das crianças entre 10 e 12 anos já experimentaram algum tipo de álcool.” E como os pais geralmente bebem, não percebem que os filhos começam a beber desde cedo, isto quando não é a própria família que oferece bebida ao jovem ou à criança.

Se por um lado há uma preocupação com os acidentes de trânsito causados por pessoas embriagadas, por outro, há o estímulo, uma permissividade ao hábito de ingerir álcool. E tudo isso graças ao poder das grandes empresas de bebidas, afinal o lobby das cervejas é dos mais fortes no Congresso. Exemplo disso é terem conseguido que a Copa de 2014 seja regada a cerveja. Alguém dúvida?

E assim a vida segue. Enquanto poucos fabricam bebidas e ficam milionários, milhares consomem e adoecem, pois o alcoolismo é uma doença grave, infelizmente, ainda não levada a sério.

http://www.einstein.br

Suzana Duraes
Enviado por Suzana Duraes em 07/02/2013
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