ESTATUTO DO NASCITURO E A TENDA DOS ESTUPROS.

Ao invés de promover um revolução na educação o Congresso Nacional faz as vezes de mexeriqueira - versão analógica de "marketeira" - criando leis e estatutos que não tem outra função se não causar polêmicas cada vez mais bizarras.

Grosso modo poderíamos dizer que ao invés de dois pratos o Niemeyer deveria ter posto dois penicos entre uma grande disgarga. Teria sido mais simbólico...

Não contente em se mostrar cada vez mais machista a Câmara decidiu aprovar o Estatuto do Nascituro, uma versão um pouco mais "arrojada" daquela crença escravagista segundo a qual a melhor maneira de se curar a gonorreia era estuprar uma "negrinha virgem".

Digo isto porque ao ler o tal estatuto me surpreendi com o tom medievo do texto. Acredito que nem mesmo Tomás de Torquemada, o maior dos inquisidores , concordaria com alguns pontos que parecem ter sido colocados no texto para criarem um tapume de discussões no intuito de esconder temas maiores como a roubalheira, o nepotismo e o sucateamento da educação.

O texto fala, entre outras coisas, do direito absoluto do nascituro, garantindo-lhe saúde, seguridade social, e proibição de aborto para os casos de gravidez de anencéfalos, em caso de risco de morte para mãe e inclusive para os casos de estupro. Até aí tudo bem, desde que você não tenha útero. Afinal o estatuto dá às células mais direitos do que uma mulher adulta.

Mas o que é inacreditável é a chamada Bolsa Estupro quando no caso de a mãe vítima de estupro não tiver condições econômicas para cuidar da criança, o estado arcará com uma pensão até que o estuprador seja identificado e responsabilizado pelo pagamento ou a criança seja adotada, se for vontade da mãe.

Deste jeito deve ser melhor nascer mulher numa tribo talibã perdida no deserto.

Somos uma nação machista e hipócrita. Quanto sangue feminino jorra de nossa história? Quantas Aracellis, Cláudias Lêssin Rodrigues, Angelas Diniz, isto sem esquecer das centenas de Joanas que repetem a canção imortalizada por Elizeth Cardoso: Joana é mais uma mulata triste que errou. Errou na dose. Errou no amor. Joana errou de João...

Se isto é um fato estarrecedor, mais grotesco é o que pode vir a acontecer, caso o Estatuto passe pelo Senado.

A história nos mostra: somos um país muito criativo quando o assunto é ganhar dinheiro do governo sem esforço.

No início do século passado o sanitarista Oswaldo Cruz decidiu acabar com a peste bubônica que assolava a Capital Federal, para isto passou a pagar dois tostões por cada rato morto entregue aos sanitaristas. O que era uma ideia até certo ponto sagaz esbarrou no jeitinho brasileiro. A populaça passou a importar ratos das cidades vizinhas e no Morro da Providencia a polícia encontrou um criadouro de ratos. E sabe qual foi o resultado? Casimiro Rocha compôs a polca Rato-rato que se tornou o maior sucesso do carnaval de 1904.

Agora façam uma viagem de 111 anos... Provavelmente teremos tendas de estupro. Malvadeza Durão, chefe do tráfico, armará sua tenda e escolherá a dedo as meninas que deseja estuprar...E as famílias ficarão satisfeitas afinal o erário ficará responsável pelo sustento da criança.

Pena que joãosinho Trinta tenha partido... Certamente teríamos no carnaval de 2015 o enredo "A Tenda dos Estupros: de Roma Pagã à Paulicéia desvairada" onde João nos contaria a estória do estupro desde Roma até a sua completa carnavalização no Brasil dos estatutos. Pena que o João se foi, pena que o Brasil não muda.

ESCRITO DEPOIS DE CONVERSA COM DOM WALDIR ROMERO.