Inclusão Social e Atualidade (Artigo publicado no jornal "O Mossoroense" em 20/04/2013)

Nos últimos anos um tema vem ganhando espaço nos círculos midiáticos do Brasil: a inclusão social. Apesar das campanhas, ainda existe resistência por parte das escolas e dos empregadores em acolher os portadores de necessidades especiais. O grande desafio está em romper com os preconceitos que perpassam a sociedade. A maioria prejulga uma pessoa com necessidades especiais como um indivíduo inválido que só traz encargos às vidas das pessoas “normais”. As propostas lançadas pelas políticas públicas em relação a essa questão não suportam o efeito real da situação. Isso ocorre porque a conscientização de igualdade de direitos e a inclusão social são discutidas de forma muito precária. A falta de interesse da população surge como agravante, pois quem não sofre com as barreiras impostas pela falta de adaptação,não consegue compreender o sofrimento que isso causa a quem necessita. Observa-se que a empatia com essas necessidades normalmente vem de pessoas que vivenciam essas experiências.

A política nacional para a educação inclusiva propõe o acesso de crianças portadoras de necessidades especiais nas escolas, porém, não disponibiliza aos educadores as instruções necessárias. Alguns professores procuram se especializar e relatam as dificuldades encontradas por eles para educar de forma correta esses alunos. Entende-se que a escola deve ter como prioridade a inclusão dessas crianças, proporcionando às mesmas a aprendizagem de tudo aquilo que é necessário para suas vidas. Todavia, os educadores devem estar preparados para dar assistência e saber lidar com as suas dificuldades e limitações. Sendo assim, poderão avaliar de forma coerente o desempenho desses alunos, sem sobrecarregá-los ou forçá-los além de suas restrições. Instrução e treinamento são fundamentais para tal. Não é dever das crianças especiais se adaptarem à escola, mas, sim,da escola a elas. Infelizmente, não é isso que acontece.

Uma preocupação dos psicólogos em relação à inclusão são as condições que muitas crianças portadoras de necessidades especiais encontram dentro e fora da sala de aula: a falta de preparação dos pais e professores para lidar com esse tema, e falta de esforço para compreender o outro e suas diferenças. Muitos portadores de necessidades especiais convivem com situações de bullying,agressões, isolamento e, a mais grave de todas, que é a punição pelo simples fato de não corresponderem àquilo que se espera delas, por falta de empatia de quem convive. A maneira como essas pessoas são tratadas reflete diretamente em seu comportamento. Se elas têm boas condições em casa e na escola, são tratadas com carinho e paciência, consequentemente serão mais sociáveis. Todavia, se forem vítimas de impaciência ou maus-tratos, poderão se tornar agressivas. Algumas passam por um quadro de depressão profunda e acabam no isolamento, desistindo de vez de tentar aprender, pois não encontram suporte para suas necessidades.Se os cuidados e respeito com o outro existirem, essa realidade pode passar por uma transformação. Se a escola estiver aberta para a inclusão e oferecer as condições de adaptação, certamente conseguiremos proporcionar aprendizagem e a sociedade se tornará, de fato, mais justa.

A inclusão no mercado de trabalho é outro tópico delicado presente nesta temática. A vontade de trabalhar existe, bem como a capacidade para exercer funções, porém o preconceito consegue dificultar a contratação de pessoas portadoras de necessidades especiais. De acordo com o art. 93 da Lei 8.213/1991, empresas com cem ou mais empregados estão obrigadas a preencher de dois a cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de necessidades especiais.Infelizmente, não vemos isso acontecer na prática.

Um dos fatores que impedem os portadores de necessidades especiais de entrarem no mercado de trabalho é o obstáculo que as famílias impõem na tentativa de protegê-los contra o preconceito e eventuais dificuldades que eles possam vir a sofrer dentro do ambiente de trabalho. Muitos pais preferem que os filhos se aposentem ao invés de trabalhar. Falta o discernimento para avaliar a vontade de inclusão que o portador de necessidades especiais sente. É possível levar uma vida normal e saudável, mesmo com limitações. A capacidade de trabalhar dessas pessoas é a mesma de qualquer um. Da mesma forma que o trabalhador sem necessidades especiais,elas só precisam desenvolver as aptidões necessárias para desempenharem a função a qual forem designadas e garantir seu espaço dentro do emprego. O mais importante é o respeito às diferenças. O portador de necessidades especiais deve ser estimulado a desenvolver suas aptidões e dessa forma agregar valores à sua condição de trabalhador. A missão é trazer o indivíduo excluído socialmente ao mercado de trabalho para que possa exercer o seu direito de cidadão, participando dos aspectos da vida no sentido econômico e, dessa forma, inseri-lo totalmente na sociedade. Entretanto,o cuidado com cargos incompatíveis com o desempenho do portador de necessidades especiais deve ser tomado, para evitar traumas que possam vir a impossibilitar o indivíduo de trabalhar por sofrimento psicológico.

Apesar de acontecer de forma muito lenta, estamos evoluindo em relação à inclusão social. A tendência mundial é que, cada vez mais, pessoas com necessidades especiais passem a ser vistas pela sociedade como cidadãos e não como “deficientes”. Chegará o dia em que essas pessoas serão conhecidas por seus nomes, endereços, identidades e não apontadas como aquelas que “não podem andar, ouvir, enxergar, etc”. Não se pode limitar um ser humano a uma característica apenas, somos partes de um todo. Não são as limitações físicas e/ou mentais que determinam o potencial e o desenvolvimento de alguém como aluno e, futuramente, profissional. Dentro de um ambiente favorável, é possível aprender, desenvolver aptidões e habilidades, contanto que haja adaptação. As pessoas especiais, quando recebem uma educação adequada, são capazes de se mostrarem produtivas e independentes. Basta ter o incentivo necessário e condições apropriadas, para que qualquer ser humano possa desenvolver seus potenciais, e viver de maneira saudável e feliz.