Vivendo de máscaras

VIVENDO DE MÁSCARAS

Num desses dias assisti um psicopedagogo falando na tevê a respeito dos desca-minhos da vida humana em sociedade. No andamento da palestra ele se referiu a três períodos distintos de sua vida, dos quais ele colheu lições e exemplos capa-zes de formar uma base para sua existência, e de profissional do comportamento.

Ele aprendeu com os pais que o que importava era ser; ser distinto, amigo, bom filho, cidadão, digno, honesto, respeitador. Mais tarde ele testemunhou a fase do ter. Era imperioso ter boa aparência, dinheiro, boas roupas, ter bens, status, ter, ter... Hoje, disse ele, na fase madura, presencia a fase do “faz de conta”. Na atua-lidade, as pessoas fazem de conta – mesmo que não esteja – que está tudo bem... que são felizes... que são honestas... que tem esperança.

Os pais fazem de conta que educam, os professores fazem de conta que ensinam, os alunos fazem de conta que aprendem, os profissionais fazem de conta que são competentes, os governantes fazem de conta que se preocupam com o bem-comum e a felicidade do povo, e este faz de conta que acredita em todas essas mentiras.

Nessa conjuntura de máscaras e falsas posturas sociais, a maioria das pessoas faz de conta que são honestas, os líderes religiosos fazem de conta que são representantes de Deus e conhecem a sua vontade; os fiéis fazem de conta que têm fé, os doentes fazem de conta que têm saúde; os bandidos fazem de conta que são dignos e a justiça faz de conta que funciona e é imparcial. Também muitos casais querem passar uma imagem de fiéis e honestos, quando seu comportamento está bem distante disto...

Enquanto os corruptos se fazem passar por probos idealistas, os terroristas querem passar uma imagem de justiceiros. É por isso que a maioria da população se omite e faz de conta que está tudo bem. Mas, uma coisa é certa, irrefutável: não podemos fazer de conta, quando nos olhamos no espelho da nossa própria consciência. Podemos sair à cata de mil desculpas para explicar nosso faz-de-conta, mas não há como justificar a omissão.

É salutar, porém, salientar que todo esse circo que a sociedade arma, causa prejuízo a todos, a partir dos que teimam em não ver. Quem age deste modo termina caindo nos buracos que ele mesmo cavou, e acaba frustrado, deprimido e derrotado. É hora de buscarmos a autenticidade, deixando cair todas as nossas másca-ras. Quem vive sem máscara nunca será confundido e jamais cairá no anonimato dos medíocres e calhordas, mas obterá sucesso em todos os seus empreendimentos.

O indivíduo autêntico jamais representa papéis falsos; ele apenas é o que é, sem maiores alardes. As pessoas autênticas têm maior possibilidade de serem felizes que as demais. Como ensina Dráuzio Varella “se não quiser adoecer não viva de aparências. Nada pior para a saúde do que viver de fachadas”.

Se é fácil enganar os outros, é impossível enganar a nós mesmos. No fim, prestaremos contas à nossa consciência e não aos outros. Quem vive de máscaras é pessoa de muito verniz pouca raiz.

Doutor em Teologia Moral, Filósofo e Escritor.