Pesquisa Policial

Nenhum trabalho policial pode prescindir de uma pesquisa, sem a qual, a instituição será sempre questionada a cada onda de insegurança; desconhecendo as causas e não sabendo como solucionar, apenas vai atacando sem tempo para prevenir. A pesquisa induz ao planejamento, colocando a segurança no seu patamar. Não é um trabalho de relações públicas; é realmente um serviço específico, técnico e inconfundível; não é uma estrutura autônoma, porém deve ser independente de subordinações administrativas aos escalões diversos; o segmento de pesquisa policial não é cabeça de nenhuma estrutura orgânica, mas que tem livre acesso aos registros, às escalas e às designações dos postos de serviço e aos inúmeros dados existentes em qualquer arquivo presente e passado; não se pode confundi-lo com um departamento de estatística, ainda que possa solicitar informações e emitir procedimentos comuns às duas áreas e de interesse geral.

A pesquisa policial é um serviço ativo que se permeia direta e indiretamente no campo da segurança e em todo o cenário da sociedade; o seu trabalho identifica origem da defasagem na segurança, que relaciona essa falha com a possível improvidência policial, ainda estabelecendo ligação dos níveis da violência deflagrada com a deficiência ou a inadequação observada nos indicadores sociais em cada segmento da população, e, que aproxima os índices da insegurança à sazonalidade da prática de fatos da sociedade, ao mesmo tempo em que associa com fatores externos ou distantes.

As polícias precisam trabalhar com base em dados obtidos em pesquisas técnicas para que suas ações continuem sendo acreditadas. Se esta iniciativa não surgir dentro da esfera policial, porém, pela evolução e o estágio em que se encontra a administração pública atual, logo as atividades policiais poderão ficar atreladas ou a reboque de um trabalho de pesquisa produzido noutras unidades do governo ou, simplesmente, continuar somente acompanhando os legítimos documentários, editoriais ou programas policiais da imprensa como as únicas fontes de informação e que são diferentes de uma pesquisa, permitindo apenas atender no varejo, com medidas paliativas, apenas dando satisfações, o que talvez possa constituir uma forma de se justificar perante a opinião pública. Mesmo que as manchetes sejam uma grande fonte de informação, no entanto, elas mostram fatos já praticados, portanto, implicitamente, depõem contra a qualidade do serviço policial. A pesquisa mostra também uma evolução, uma tendência futura, permitindo planejamentos adequados. O mundo cresce com a pesquisa; a política toma como base os indicadores da pesquisa e os candidatos estabelecem suas estratégias em função dos números; se todos os governos não possuem suas organizações específicas para orientar as políticas do Estado, com certeza, todos os governadores, particulamente, possuem uma assessoria ou contratam empresas especializadas neste campo, inclusive, dando conhecimento da qualidade da segurança praticada. Ninguém quer ficar desinformado. Uma polícia desinformada sempre estará atrás do bandido e nunca o alcançará; vai ficar apenas reclamando que o bandido usa carro possante e armas de boa resolução. A polícia não pode mais continuar correndo atrás do bandido, quando isto acontece, algo está errado, ela deve ocupar os espaços antes que os delinqüentes assumam. A informação obtida pela pesquisa é o veículo que leva até lá, prevenindo.

Com a inserção dos primeiros trabalhos de levantamento de dados sob a forma de pesquisa, logo a designação dos postos policiais e a forma de atuação de muitos setores da polícia deixarão de ter a participação direta só da pessoa do chefe e passarão a obedecer aos resultados das pesquisas que apontam outro rumo quanto à forma de superação ou prevenção, tudo consignado numa telinha com mensagem específica para cada setor da polícia; com mensagem codificada ou cousa assim, o destinatário vai fazer a leitura que mostra a situação e os momentos, locais e circunstâncias da violência, como resultado do trabalho de pesquisa, e, a quem compete providências, ao mesmo tempo em que aponta medidas específicas, sua qualidade, duração, intensidade e formas de procedimentos, enquanto o próprio programa fica aguardando a confirmação do início das efetivas providências sugeridas e elencadas, ao mesmo tempo em que espera sinal dos primeiros números para a avaliação das últimas iniciativas, conforme instruções para cada momento. Depois de instalada a pesquisa, nenhuma polícia será mais a mesma, pois sempre terá noção do futuro, portanto, trabalhando preventivamente, sempre convergindo com os interesses superiores da sociedade.

Na verdade, torna-se imprescindível e inadiável a concepção de uma estrutura que se empenhe profundamente no complexo campo de pesquisa como uma ferramenta mais apropriada para orientar na elaboração dos planos e projetos de segurança preventiva. Com a edificação dessa cultura nos quadros policiais e que não é novidade noutros setores, talvez até já em muitos órgãos policiais, é evidente que logo comece surgir uma outra linguagem policial. Certamente, poucos terão motivos para continuar falando em armas pesadas e atiradores de elite; aliás, os dois têm suas inconveniências e seus perigos para a sociedade e para as polícias; a maioria das organizações passará a falar em resultados, qualidades e estratégias eficientes e inteligentes para segurança. À medida que se consolida a pesquisa com maior amplitude, é possível que os efetivos policiais passarão a ser tecnicamente empregados, surgindo evidências de um superávit de profissionais de polícia, como se houvesse excesso de policiais, os quais passarão a ter mais tempo para se envolverem em treinamento, reciclagem e outras tarefas que notabilizam as corporações. Pesquisar é necessário.