A RUA COMO MORADA

O termo “Exclusão Social” é de difícil definição ideológica, por abranger diferentes áreas. Estudos tem abordado este tema do ponto de vista econômico, atribuindo como causa a injusta distribuição da renda nacional, e a ausência de uma reforma social, motivando aos poucos o empobrecendo da sociedade, desnivelando a mobilidade social de forma acentuada; enquanto outros concentram-se no aspecto social do estudo desta questão, entendendo-o como discriminação e perdendo seu enfoque fundamental, que é o da injustiça social. E neste contexto, a consequência da extrema desumanidade, está inserida na figura destas pessoas em situação de rua.

Ao empreendermos uma análise desta realidade não podemos nos furtar a outro componente de importância vital e que traz as raízes desta problemática: O modelo capitalista de governo, onde mais se aprofunda o “abismo” de possibilidades e oportunidades dos que vivem na base, a massa trabalhadora, e no vértice, o poder econômico, da pirâmide social, que produzindo um cenário de desemprego e informalidade compromete os vínculos de uma sociedade super competitiva e que padroniza hábitos de consumo cada vez mais sofisticados e exigentes e os que não atenderem à este apelo ficam de certa maneira marginalizados.

O sociólogo Lindomar Bonetti cita que seus estudos concluíram que conflitos familiares, desemprego e fracasso escolar compõe a tríade causal desta situação, afirmando: “Geralmente as causas estão dentro do seio familiar, existe algo que motiva essas pessoas a irem para a rua”.

No universo do lar é onde construímos nossos valores, princípios éticos, desenvolvemos nossas afetividades, afinidades, emoções e a ruptura do desenvolvimento e encaminhamento desta dinâmica leva na maioria das vezes, por dificuldades de convivência forçando as pessoas a se desligarem deste núcleo em que vivem e por falta de opção e situação econômica serem obrigadas a morarem na rua.

Mesmo vivendo à margem deste sistema em uma situação de vulnerabilidade, estes “moradores de rua” participam dele, pois buscando em alguma atividade econômica algum recurso, utilizam-no na manutenção da sobrevivência diária. Num passado muitas vezes não tão distante, ao se depararem com a falta de rendimentos, desemprego e seu impacto direto na própria sobrevivência familiar, muitas pessoas sofrendo pressões, cobranças, e intolerâncias do meio social e principalmente da família se desmotivam abandonando aquilo que deveria ser a base de sustentação de suas vidas: a família, que em contrapartida também sofre com a ausência do provedor.

A falta de resposta quanto a esta questão através de políticas públicas realmente justas, imposta por este sistema concentrador de renda forçam muitas pessoas a se sujeitarem ao relento em total abandono e desproteção, sem qualquer perspectiva de inclusão e ascensão social. Esta problemática estreitamente delicada, não é nova e já atinge também cidades de pequeno porte, sinalizando a pauperização desta camada da sociedade, invisíveis ao nosso olhar indiferente e totalmente desassistida por ações efetivas das autoridades governamentais.

À mercê da própria sorte, passam despercebidos mergulhados num histórico de vida carregado de conflitos, tristezas, frustrações, abandono de lares onde o único e último lenitivo acaba sendo a procura pela rua. Buscam no álcool, nas drogas, estrategicamente, uma fuga para a dura realidade em que estão confinados, sem encontrar saídas para suas inquietações, fragilidades, um recurso imediatista e degradante que intensifica ainda mais a decadência social em que se encontram.

Dados coletados pelo Movimento Nacional de População de Rua, aproximadamente são por volta de 2 milhões de pessoas vivendo nestas condições por todo o Brasil e atrelado à esta questão temos o problema do déficit habitacional em nosso país; sobre esta questão a socióloga da Universidade de Brasília Maria Lúcia Lopes da Silva, pesquisadora desta área enfatiza: “Não ter uma casa própria ou dinheiro prá pagar um aluguel também é um ponto que deve ser levado em consideração. É o problema da falta de renda, de um modo geral que leva a isso”.

Néo Costa
Enviado por Néo Costa em 26/08/2013
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