Pensando sociedade e psicopatia

Pensando sociedade e psicopatia(autoria de Júnior Lopes- parceiro recantista)

A sociedade significa, em essência, uma estrutura regida por regras. Como tudo aquilo que é criação humana, a sociedade se encaixa e se configura dentro da lógica linguística na qual construímos nossa existência - o ser humano é possível somente no simbólico. Essas regras ditam valores, padrões de comportamento, crenças e tantos outros parâmetros para que haja organização e sustentabilidade da coexistência entre as pessoas. Em suma, a função da sociedade é nos obrigar a tolerar os outros e a aprendermos a por eles ter empatia.

Mas essa nossa necessidade de regras deriva de outra mais profunda: a imperiosidade de darmos sentido à nossa vida e a tudo aquilo que a ela consideramos estar conectado. Para podermos pensar, temos que organizar os objetos da nossa experiência em categorias, em seguida sistematizá-los para posteriormente lhes atribuir sentido. Se ponderarmos bem, podemos enquadrar o mecanismo social de convívio como análogo a construção que somos "naturalmente forçados" a fazer para criar pensamento. Lógico que a sociedade não deixa de ser uma categoria, mas é bem mais complexa, já engloba uma infinidade delas; dessa forma, adquiriu "vida própria" de uma maneira tão marcante que ela manda em todos nós, que ela que nos dá as ferramentas para adentramos na linguagem e nos fazermos humanos. A sociedade, ao mesmo tempo que nos dá limites, também nos permite enxergar sentido na vida e a organizar sistematicamente nossas experiências como a lógica do nosso pensamento exige - a sociedade é um dos aparatos simbólicos que o homem teve que criar para poder se tornar viável.

Entretanto, há aqueles que não conseguem se enquadrar na lógica do funcionamento social. Antes de tudo, sociedade é uma forma de pensar que conduz a um agir e, para que uma pessoa siga a conduta que essa forma de pensamento exige, ela tem que primeiramente se apoderar da lógica que a embasa. Dessa forma, é possível que certas pessoas desenvolvam sua estrutura simbólica às margens das regras sociais. Essas pessoas adquirem um mecanismo peculiar de significação para as suas experiências e, em consequência disso, uma estrutura de regras própria, que diverge daquela que a sociedade apregoa.

O psicopata vive em um sistema de significação próprio, que somente ele entende. É muito complexo lidar com alguém que não entendemos e que não nos entende, não uma incompreensão banal no âmbito de uma simples metáfora, mas de uma incompreensão de incompatibilidade de estrutura simbólica. As atitudes que essas pessoas são capazes nos aterroriza, nos coloca na posição delicada de ponderarmos acerca do que deve ser feito deles para que não perturbem o funcionamento da sociedade: pena de morte? tentar a reabilitação em penitenciárias especializadas?

O sujeito sociopata, ao meu ver, deve ser entendido como alguém que não está apto a viver em sociedade por ter tomado um caminho na sua formação simbólica que o conduziu a não entender as regras como aqueles considerados normais. Não estou dizendo que são inocentes e sim que eles "falam outra língua", que estão em um campo semântico fora do nosso. O que também é perturbador é que eles são muito sedutores para aqueles ditos normais: teríamos algo em comum com eles que nos cativa e nos chama para perto deles? As pessoas que foram convencidas por Charles Manson e seu Helter Skelter a cometer assassinatos brutais também são psicopatas?

São muitas as questões que podem ser debatidas acerca desse assunto, mas uma coisa parece ser indiscutível: as pessoas estão pouco interessadas em lidar com seus demônios, em vez disso se cobrem de bens materiais e outras ilusões para esquecer a imagem que refletem no espelho e levam a forca todos aqueles que ameassem esse estilo de vida.

tuka bella
Enviado por tuka bella em 15/09/2013
Código do texto: T4483096
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