PASSEI... E AGORA?

PASSEI, E AGORA?

Na semana passada, conversei com um amigo, aposentado como eu, cujo neto, que mora com ele, passou em um vestibular na Universidade Federal, em Porto Alegre. Com a aprovação, porém, ao invés de virem as soluções sonhadas, parece que surgiram mais problemas além do imaginado. Primeiro, uma questão de vocação: na hora de fazer a matrícula o garoto passou a questionar se era aquele curso que ele queria mesmo cursar. Depois, a diversidade dos horários oferecidos para as cadeiras, vai obrigar o aluno a, muitas vezes por semana, ir alternadamente à escola de manhã e/ou de tarde. Isto acarretará, entre outros fatores, um desembolso considerável para a alimentação. A isto tudo se deve somar o gasto com o transporte, onde uma van tipo “porta-a-porta” – eles moram em São Leopoldo – onera significativamente o sonho de o jovem cursar uma universidade gratuita. Passou, e agora?

De outro lado, uma pessoa conhecida, residente na Capital, relatou seu problema com os estudos superiores do filho. O rapaz queria fazer vestibular para um curso de alta concentração de candidatos, numa universidade pública, mas que depois de várias tentativas optou por um vestibular numa faculdade particular, onde as dificuldades do vestibular são menores, mas o ônus financeiro que vai recair sobre o pai é assustador. Nessa troca ocorreu um conflito vocacional: o jovem sonhava com um curso da área médica e na opção pela faculdade particular teve que optar por um curso técnico-humanista. Será que o garoto vai se adaptar ao desafio desse novo perfil? Passou e agora?

Toda essa conversa sobre faculdades nos remete a outra questão: o confronto entre os cursos gratuitos e os pagos. As gratuitas, embora seduzam os candidatos pelo custo-zero em termos de mensalidade, trazem além das despesas de transporte, alimentação, livros caríssimos e currículos com valores nem sempre tão eficazes quanto o que foi expectado. As reprovações nos semestres das universidades gratuitas parece que são em menor número que nas particulares. Sintoma de quê? Maiores facilidades?

Há também aí a distorção social do ensino no Brasil. Quem pode pagar o estudo, cursa universidades gratuitas. Quem não pode pagar, dá um jeito e se endivida ou desiste de seguir uma carreira universitária. Os vestibulares das universidades públicas são um funil de dificuldades, onde só logra a aprovação quem se dispõe – salvo honrosas exceções – a pagar um caríssimo “cursinho” pré-vestibular.

Como se observa, não basta passar, ser aprovado, pois existe uma série de fatores que criam óbices muitos deles difíceis de ultrapassar. Seja no aspecto financeiro, anímico ou vocacional. Vi um pai animar a filha para ingressar num determinado curso que, segundo ele, daria mais dinheiro. Tal pessoa incentivava a filha sem se dar conta que ela não tinha perfil para o curso sugerido. A garota teve que optar por outra alternativa. Passou, e agora?