O casamento mudou
 

“Já não se faz mais casamento como antigamente”.

A frase, de duplo sentido, pode significar o ritual e a festa do casório ou a convivência diária da união.

De qualquer forma, é fato. Já não se faz mais casamento como antigamente, nem festa, muito menos o dia a dia.

Casar, virou superprodução de cinema com direito a assessoria, estilista, cinegrafista, fotógrafos, organizadores, floristas, massagistas e mais uma infinidade de gente dedicada exclusivamente para que sua festa seja inesquecível, principalmente no bolso.

Mas o que mudou mais, com certeza não foi a odisséia de igrejas decoradíssimas ou o vestido digno do tapete vermelho. Foi o valor do casamento.

Há pouco mais de 40 anos, casar significava atingir o auge da ambição feminina. Se o sujeito fosse bonitão e bem sucedido então, era a glória. As moçoilas se empenhavam em cabelos, bocas e curvas para agarrar o “partidão”, constituir família e ser bem casada.

O homem, por sua vez, fazia da sua casa o “reino”, onde a sua palavra era lei e todos viviam sob suas regras.

As pessoas se adaptavam, os sonhos eram readequados e os valores familiares seguiam a cartilha da constituição paternalista e machista.

Neste cenário, a mulher era colaboradora, dona de casa, mãe de família, uma verdadeira “rainha do lar”. Educada para casar com véu, grinalda e laranjeira, chegava ao casamento pura e virgem, disposta a fazer absolutamente tudo para agradar totalmente o marido.

A infidelidade masculina era normal. A palavra “amante” era sinônimo da competência do macho que tinha em casa a santa e na rua a prostituta que satisfazia os seus desejos.

E assim os dias seguiam em uma constituição familiar opressora e digna de tratados de terapia. Mulheres insatisfeitas choravam sua sina de traídas por homens que se julgavam merecedores de aventuras extraconjugais porque “era coisa de homem”.

Felizmente isto mudou. E mudou rápido.

Não há que se falar hoje em dia nesta figura feminina passiva e nem nesta figura masculina abestalhada mesmo proque, a exigência atual para um bom relacionamento é gigantesca.

Com exceção de uns poucos que ainda colocam o casamento em primeiro plano, a busca por um parceiro não é mais questão de honra, de competência e nem de orgulho.

Mulheres vivem bem sozinhas, assim como homens e relacionamentos passaram a ser sinônimo de construção, valorização e crescimento. Portanto, quando estes objetivos não são alcançados, é comum o casal decidir pela separação e partir para a nova empreitada em busca da tão aclamada “felicidade”.

Neste ponto entra um fator muito interessante: a suposta “felicidade” tem sofrido uma supervalorização.
Não nos basta mais a segurança de um relacionamento, nem o amor declarado. Queremos sempre mais.
Queremos a felicidade suprema, irrestrita, inquestionável como se fosse parâmetro para a continuidade do casamento.

Para começar, isto não existe.

A mulher (ou homem) perfeita, leve e solta dos comerciais de margarina que anda sorridente pela praia, descalça e flutuante em seu vestido diáfano pode até existir em uma viagem de férias, após algumas taças de vinho ou quando recebe uma notícia maravilhosa. Na maioria das vezes entretanto, é apenas uma criação da mídia para vender... margarina.

Portanto, este mundo utópico onde casais flutuam em uma alegria inebriante tem outra faceta.

A faceta das preocupações do dia a dia, das enxaquecas, das dívidas, do problema na escola dos filhos, da insatisfação pessoal, da frustração dos planos e do desgaste cotidiano.

Os verdadeiros casamentos suportarm e sobrevivem a isto. São a fortaleza nestes momentos, por que cá entre nós, é muito fácil viver um conto de fadas onde há sempre satisfação, mas quando os questionamentos surgem no meio da noite, a cena muda completamente.

Já dizia um sábio “bom humor é afrodisíaco”.

É verdade. O melhor deles.

Mas o humor varia. Muda de acordo com a passagem da horas e há dias em que estamos 100% e em outro apenas 25%.
Nossos parceiros e parceiras também e não há mal algum nisto, ao contrário, demonstra que no exato momento em que conseguimos ter só 10% de bom humor é quando precisamos de mais atenção.

Nem todo problema e toda tristeza são em decorrência do casamento.

Há uma individualidade psicológica, social, física e emocional que muitas vezes não se comunica com a unidade buscada no casamento.

Também dizia o sábio de carteirinha que “Viver brigando por bobagem desgasta qualquer relação”.
Fato.
Não há explicação para todo ato, olhar, suspiro, sorriso. Às vezes um momento de tristeza é só a lembrança de Anne Hathaway cantanto “I dreamed a dream” no filme os Miseráveis. E outras vezes é tristeza das bravas mesmo e neste caso, é preciso ouvir, falar, compreender e buscar a solução do conflito. Juntos.

Há muitas regras para manter um bom casamento. Sabemos a maioria delas, esquecemos todas quando a raiva surge e a intolerância pega, Aliás, a impaciência é um dos piores criadores de conflito. Pessoas são diferentes em seus ciclos e ritmos. É preciso tentar respeitar este espaço.

Agora, há uma questão que fere mortalmente o casal: a indiscrição. Não há coisa pior que falar (mal) do seu parceiro/parceira para outros.

Também é bem ruim saber que os planos e sonhos discutidos na intimidade viram prestação de contas para pais, irmãos, filhos, amigos ou até o balconista do boteco da esquina. Complicado.

Por fim, a maior mudança do casamento nestes últimos anos: a liberdade. Fazer o que se quer. Apenas o que se quer, sem moldagem ou adaptação apenas para agradar ao outro.
Ninguém muda só porque casou. Mudamos apenas “porque” e “se” queremos. Portanto, esta violência também chamada de “concessão”, gera um saldo emocional e psicológico terrível que no final, inevitavelmente, volta com as garras afiadas da cobrança e até da culpa.

O casamento teve muitas alterações para melhor: a igualdade, a divisão de tarefas, a responsabilidade, a fidelidade dentre tantas outras, mas então porque tem sido tão difícil?
Talvez porque falta a mudança em nós mesmos. Mudança esta que começa na percepção que se unir a outro não é um ato passageiro e descartável que pode ser rompido porque não combinamos na discussão da cor da cortina da sala.
Mudança que exige paciência, perseverança e tolerância.
Mas principalmente mudança para enxergar no outro as virtudes e qualidades que nos encantaram e pelas quais nos apaixonamos... Mesmo quando os defeitos gritam em meio a uma briga.

Pois é...Sabemos todas as regras, conhecemos toda a teoria.

A prática, portanto, tem tudo para dar certo.
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 08/04/2014
Reeditado em 10/04/2014
Código do texto: T4761115
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