ESTRANHAS EPIDEMIAS

Quando se fala em epidemia, imediatamente, perguntamos pela doença física que estaria se alastrando e abalando a saúde da população. Mas, em questões de saúde, não se registram na história apenas epidemias referentes à saúde do corpo. Os historiadores falam também de epidemias psíquico/espirituais.

No Brasil, atualmente, diversos analistas falam de uma anomia ética. Esta anomia, ausência de normas, é caracterizada como uma epidemia que resulta em alto índice de homicídios, assaltos, linchamentos, roubos, tráfico de entorpecentes, corrupção, injustiças, impunidade e falta de sensibilidade social. Estas manifestações epidêmicas estariam contagiando o comportamento dos cidadãos, sem uma preocupação adequada das autoridades para barrar tal perversão.

A medicina sabe que as epidemias físicas devem ser enfrentadas com remédios, vacinas e cuidados adequados, após se identificarem as causas da doença. Analogamente, as causas das epidemias psíquico/espirituais devem ser pesquisadas e tratadas adequadamente. Isto, com certeza, não é fácil, e nem sempre redutível a soluções racionais. Dali a angustiante pergunta: como reverter a anomia epidêmica de parte da população brasileira?

Em exemplos históricos, talvez pudéssemos vislumbrar um horizonte de saída para a anomia epidêmica, que macula o momento atual da sociedade brasileira.

Conta o filósofo grego Plutarco (46-119 d.C.) que na cidade de Mileto, localidade hoje da Turquia, as jovens começaram a ser contagiadas por uma estranha epidemia. Repentinamente, abateu-se sobre elas uma doentia vontade de morrer, com grande número de suicídios. Muitas famílias entraram em pânico, e as autoridades estavam perplexas. Como reverter esta situação? Ninguém sabia. Até que um cidadão iluminado sugeriu ao Conselho da Cidade que se criasse uma lei, pela qual toda jovem suicida, antes de ser enterrada, seria exposta nua em praça pública. O que aconteceu? Não houve mais suicídios e as jovens superaram sua mórbida vontade de morrer. O remédio foi espiritual/psíquico para uma epidemia espiritual/psíquica.

As epidemias espirituais/psíquicas são numerosas nos relatos históricos... E, os relatos dos numerosos linchamentos e homicídios na atual anomia ética brasileira!? Onde encontrar remédio? Será necessário esperar por algum iluminado, que sugira leis adequadas para barrar esta vergonha nacional?

Inácio Strieder é professor de filosofia