ETA, MUNDO, MÍSERO MUNDO!

O grau de humanidade de um grupo humano se avalia pelo nível de solidariedade, de cooperação e de compaixão que cultiva face aos coiguais necessitados.

Leonardo Boff

Do jeito que a coisa está, avançamos para um mundo insustentável. Bilhões de pessoas estão atadas a um sistema vivencial de penúria, de lágrimas e ranger de dentes. Raros ouvem essa angústia, poucos, muito poucos se envolvem num Projeto de radical transformação. Os reforçadores da Sustentabilidade da Vida parecem esmagados pelos que subjugam tudo à ganância.

Humanidade escorrega para “jogatinices” conceituais, não poucas vezes, se cuspindo na necessidade do Bom. Neste fenômeno, vale o toque foucaultiano: “o que é bom é algo que vem com a inovação. É praticado e inventado”. A cultura “mercantileira”, ao contrário, trombeteia: “bom é ganhar dinheiro e ficar rico, e não ser honesto, justo e solidário”. A ética vigente engorda sob a comilança especulativa. Nas veias do processo produtivo corre sangue diabético. Aos poucos, todo o maquinário, toda a estrutura, todo o sistema, vai se esfolando, tudo é reduzido à mera mercadoria.

Se acha que sou “retoriqueiro”, pense nos dados a seguir: apenas sessenta trilhões de dólares são aplicados na produção real. Agora, seiscentos trilhões de dólares voam pelas bolsas, isso mesmo, é a orgia derivativo-especulativa. Um punhado de famílias e pouquíssimos grupos chegam a se intoxicar com tanto dinheiro. Não é ignominioso que os vinte por cento mais ricos consumam oitenta e dois vírgula quatro por cento de toda a riqueza da terra? Não é imoral que os vinte por cento mais pobres tenham que se virar com reles um vírgula seis por cento? Não é um acinte que três pessoas sejam mais ricas do que quarenta e oito países mais pobres juntos, cujos habitantes chegam aos seiscentos milhões de seres humanos? Não é diabólico que somente duzentos e cinquenta e sete indivíduos acumulem mais riquezas do que dois bilhões e oitocentos milhões de pessoas? Não é uma barbárie que um por cento da população mundial controle metade da riqueza? Se isso não for injustiça ou uma tragédia, temo ter perdido o juízo.

Nossa temperatura de humanidade, lamentamos, anda abaixo da falta de vergonha na cara. O próprio Mamon deve sentir remorso pelo espírito “democraticilga”, pai de uma cidadania rasteira que, nas palavras de McChesney, é despolitizada, marcada pela apatia e pelo cinismo. Esse status quo canta e decanta: “eis o melhor dos mundos possíveis”. Destarte, a permanecer essa forma de organização social, outro não será nosso futuro senão, alerta McChesney, no prefácio de “O Lucro Ou As Pessoas”, de Chomsky, mergulharmos em convulsões sociais terríveis. Alguém duvida?

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