A decadência do Império

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO

Eu não sou “vedor” de novela, mas mesmo assim volta-e-meia amigos me telefonam, indignados, sobre as drogas que a televisão anda nos impingindo. Como preciso ser fiel aos clamores dos que me ligam, vez que outra tenho que dar uma olhada na telinha para obter subsídios para as minhas críticas, geralmente contundentes, como esperam meus leitores.

Lamentavelmente, a Rede Globo parece, no afã de conquistar audiência, haver perdido completamente o senso de pudor, apresentando uma nova novela que conseguiu superar todos os lixos anteriores, num verdadeiro retrocesso moral e desconsideração aos telespectadores, às famílias e especialmente as crianças.

Superando as anteriores chanchadas, Império conseguir juntar um conjunto de personagens onde todo mundo é vilão; não existe ninguém decente. Vamos alguns descaminhos provocados pelos personagens; bons artistas, mas personagens sem caráter.

O “imperador” é um corrupto, adúltero (quase pedófilo) e assassino. É a nova feição da Globo: “o mocinho canalha”. Nas peças anteriores havia uma ou duas vilãs: nesta são seis. Além destas, há – superveniente às anteriores – cinco homossexuais (um deles travesti). As “mocinhas” se revelam pessoas dúbias, de moral duvidosa, há dois ex-presidiários ainda não reintegrados à moralidade formal, e também um criminoso (homicídio de trânsito) tentando fugir da responsabilidade, acobertado pela vilã-mor da trama (sua mãe). O outro filho é um vagabundo que não trabalha e só cheira cocaína.

A falta de ética profissional de uma jornalista, uma advogada e um engenheiro dão uma dimensão bizarra e trágica ao enredo. Há ainda uma ideia mal esclarecida sobre abandono de crianças, num circo de conspiração, atitudes mafiosas e chantagistas, com espionagem, boicotes e tolerância cúmplice de uma esposa com os desvios homossexuais do marido.

Para completar essa avalancha de atitudes de moral decadente, temos os pais que, para se manter (não trabalham) não titubeiam em apoiar o filho garoto-de-programa e jogar a filha nos braços do “imperador” a fim de auferir lucros e benesses.

É incrível a técnica da Globo, em sua capacidade de viciar até pessoas que pareciam mais centradas, e diante dessa desfaçatez moral se revelam atraídas por tanta porcaria. Quem achava que as cafajestadas de César, Aline e Félix, ou o romance das duas mulheres das novelas anteriores, viu o quanto o colapso moral pode se superar e extrapolar. O sucesso do mal ocorre pela omissão dos que não são suficientemente corajosos para a denúncia e para o confronto.

O autor é Escritor, Filósofo e Doutor em Teologia Moral.