Mulher, Negra e Professora

Tinha levado uma boa parte da tarde lavando o carro na garagem da casa. Que estava impecável, por dentro e por fora. As menores reentrâncias de poeira haviam sido retiradas. Das partes sob os pedais, do painel. Os tapetes, cuidadosamente lavados e secos, sem a menor pontinha de poeira. O polimento com a cera que comprara na semana anterior. Um carro novo. Que havia sido adquirido pela mulher. Pronto para leva-los à casa dos amigos onde iriam jogar buraco. Ele, a mulher e a filha.

- Tire os sapatos. O carro tá limpinho, falou o marido.

- Isso é um absurdo! Não vou tirar os sapatos pra entrar “nesse” carro.

- Então não vai entrar.

Arminda voltou pra dentro de casa e os três não foram à casa do casal de amigos. Embora ele tivesse saído depois com o carro para dar uma volta.

No Estadão de ontem, ficamos sabendo que o “acusado de planejar estupro coletivo na Paraíba é condenado a 106 anos”. Cinco mulheres foram estupradas durante uma festa de aniversário, sendo duas delas assassinadas por terem reconhecido os seus agressores. As mulheres teriam sido oferecidas pelo irmão do aniversariante como presente de aniversário.

No Estado Islâmico, que não ficou conhecido a partir de agora, quando dele ficamos sabendo a partir das implacáveis execuções a sangue-frio, oferecidas ao mundo pela TV, ao que parece por preceitos religiosos, as mulheres condenadas por adultério são apedrejadas até à morte. Além de as meninas serem proibidas de estudar.

As mulheres continuam a ser inferiorizadas pelos quatro cantos do planeta. Assim como os negros também o são. A despeito, no Ocidente, dos exemplos deixados por figuras como Martin Luther King, Nelson Mandela, Mahatma Gandhi e muitos outros que morreram, ou foram assassinados, acreditando nas liberdades civis para todos.

O que nos faz lembrar de mulher que já foi de nossa intimidade quando dizia que “mulher, negra e professora é uma merda!”, no caso específico do Brasil, onde o magistério não tem a importância que devia merecer.

As distinções de gênero e de raça continuam mais vivas do que nunca pelos quatro cantos do planeta. Não se tem notícia de que uma mulher tenha chegado a ser Papa. Apesar de agora elas já dirigirem nações e até caminhões da Comlurb.

Ninguém desconhece isso. Mas considerar que essa seja a ordem a que devemos nos habituar é um escarnio em relação à condição humana. Na qual a ausência da mulher colocaria tudo a perder. Mulher não deveria servir só para f... fabricar filhos.

Rio, 27/09/2014

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 27/09/2014
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