GERAÇÃO SMARTPHONE

A sociedade paulistana adentrou numa realidade paralela, onde o mundo está sendo visitado a partir do Smartphone particular, cada sujeito com o seu, e seus dois subprodutos: Facebook e Whatsapp.

Quem observa o paulistano vê claramente que o sujeito passou a ser escravo do Smartphone.

Os dedos comandam o sujeito e há um olhar estático para telas de no máximo 8 polegadas, escravizando os passos dele e as ações cotidianas que são feitas, muito mais se dão olhando um visor que se pode movimentar com os dedos da mão do que olhando para o mundo ao redor.

Não há, quase, mais uma troca de olhares, se perdendo, muitas das vezes, a possibilidade de ser solícito com a pessoa mais velha para ceder o lugar num ônibus, metrô ou trem nem se costuma mais ver a delicadeza de se segurar algo mais pesado (bolsa, sacola, material escolar, etc.) que um passageiro em pé carrega.

Só há descanso do Smartphone quando o transporte coletivo está lotado e não se conseguiu um espaço para operá-lo, ou melhor, ser operado por ele.

Todo ambiente, seja em um bar, na academia, no automóvel o Smartphone está junto e parece crescente que ele torne-se mais necessário do que o calor humano das pessoas que estão ao lado. O que está distante parece ser sempre necessário de estar perto e o que está ao lado parece que só de estar ao lado é suficiente não se precisando um diálogo existir.

O Smartphone sequestrou o cérebro de muitos paulistanos. O mundo corre ali, numa troca incontrolável de mensagens e numa corrida desenfreada pela timeline do dono do Smartphone, tudo num silêncio absoluto. Tudo feito de uma maneira imóvel e desligada do mundo real. Só se volta, por instantes, ao mundo real, na hora que é preciso descer do ônibus, metrô, trem ou para se encontrar uma vaga para estacionar o carro.

Muitos abandonaram de vez a costumeira leitura de um livro nas horas diárias perdidas no trânsito, dentro do transporte coletivo ou automóvel.

Antes se lia Sidney Sheldon, Zíbia Gaspareto, Paulo Coelho, livros de autoajuda, Harry Potter e Literatura Fantástica. Eram leituras que, apesar do questionamento da profundidade intelectual das mesmas, traziam certos preceitos importantes como a espiritualidade de um Paulo Coelho, a noção de caridade e ajuda aos necessitados dos espíritas, o romantismo de um Sidney Sheldon, além de Harry Potter e seu mundo de fantasia, etc.

De alguma maneira se estava incorporando um sentido humanista/espiritual e literário (este poderia incentivar a leituras mais aprofundadas no futuro, certo?). E não se pode negar que a leitura abre a cabeça das pessoas, traz uma capacidade de raciocínio mais apurada, incentiva a memória, a associação de ideias e a reflexão.

Hoje, quase não se vê um livro nas mãos dos sujeitos que pegam ônibus, metrô e trem na cidade de São Paulo.

Quase tudo se limita ao olhar fechado e concentrado em um Smartphone. Ele substitui o olhar, a boa-educação, a conversa e a leitura.

Quase todos estão fora do diálogo, do texto literário e da leitura.

O que está contido nas timelines do Facebook, o Whatsapp e as amizades que possuem nestes programas virtuais determinam a conduta da Geração Smartphone e como vai ser a percepção do mundo em que vivem.

E, tem o agravante, se não estiverem em seus acessos virtuais às redes sociais ou listas de amigos mandando mensagens, por falta de crédito, sinal, ainda temos o Smartphone como videogame.

Acabaram o diálogo, as conversas entre pessoas. Acabaram os olhares e as leituras, como já disse antes. Está tudo fechado nesse mundo, que não dá tréguas um instante, aonde o sujeito vai o Smartphone vai atrás (parafraseando a velha canção da vaca e do boi). E, da mesma forma como o sujeito entra no ônibus, metrô ou trem ele sai, sem olhar para ninguém e sem perceber nada a sua volta.

Aqui, se pode encontrar um caminho para estudar o povo paulistano e suas contradições.

Em sua grande maioria trabalhando e com dinheiro no bolso, consumindo coisas, indo para as baladas e viajando para lugares incríveis e, ao mesmo tempo, se debelando contra quem lhes oferece essas condições e defendendo quem lhes prepara uma inusitada situação:

Terão Smartphones para se comunicar no mundo virtual, enquanto se engalfinharão em mercados ou disk águas ou a procura de carros-pipas para lhes darem um balde d´água para matarem a sede e quem sabe, se der, fazer asseio do corpo nas altas temperaturas da primavera e do verão com a iminente falta d´água.

O conteúdo trocado nos smartphones deve explicar o conservadorismo crescente, a ausência de maior conteúdo ao expressar o porquê das suas revoltas, dos seus votos, das suas escolhas de inimigos em meio ao direito cada vez maior de fazer coisas legais e de consumir.

E é interessante, que todas as classes sociais parecem ter este mesmo padrão de comportamento. Hoje, as pessoas se vestem bem, saem de casa e consomem, mas tudo se fecha num mundo virtual, onde o Smartphone comanda os passos e as atitudes do sujeito, alheio ao mundo real e suas vicissitudes, engessado a ponto de não adquirir prazer por um conhecimento outro, alienado para uma situação outra que lhe permita fugir dessa prisão, situação que lhe dê excitação por estudar, por ler um bom livro, por se engajar num partido político, por ter uma ideologia, por buscar uma espiritualidade e/ou um descanso desse mundo virtual, por procurar uma atividade em uma ONG social, ambiental, em fazer um trabalho comunitário, por construir interiormente qualquer sentimento humanista, se podem me entender.

Não há mais do que essa tríade: casa, trabalho e consumo. Não há nenhum idealismo, sonho, utopia, tudo fica postado e depositado numa tela que se move com um simples toque dos dedos.

Tudo é replicado de uma timeline para outra em milésimos de segundos. Todos abismados com o que, supostamente, é a verdade das verdades, o escândalo dos escândalos. E, um simples alarme falso de envenenamento do Youssef torna-se uma viral sem limites e sem chances para a razão, esperada, após a descoberta de que era mentira.

E desta realidade/Geração Smartphone surge esse espaço para a introdução de ideias, via mídia e o partido dela, que desembocam na crença de fraude eleitoral, de o PT ser o Governo mais odiado, mais corrupto de todos os tempos, de que a vida não está boa, mesmo com todas as coisas que se consomem hoje, mesmo com pleno emprego e baladas + viagens, muitos indo para lugares paradisíacos e outros tantos gastando bilhões nos EUA em compras e, quase tudo, propiciado pelo PT.

Antes do PT, a gente tinha essa facilidade de viajar de avião mais de 1 vez por ano ou para muitos, 1 vez na vida? De ir para os EUA, Paris pagando 3 mil reais em 10 vezes sem juros? De comprar um Smartphone e trocá-lo, assim que sai um modelo mais novo?

Quem oferece à Geração Smartphone o que ela mais gosta é justamente quem ela menos gosta. É a coisa mais impensada e real que existe.

Está difícil qualquer diálogo com a Geração Smartphone. O que se pode fazer para mudar esta realidade? Eu deixo para a reflexão. Com a palavra os intelectuais.

Alexandre Tambelli
Enviado por Alexandre Tambelli em 02/11/2014
Reeditado em 02/11/2014
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