Geração Smartphone e contraditório

GERAÇÃO SMARTPHONE E CONTRADITÓRIO

Por estes meses experimentei a realidade do Facebook como uma plataforma de militância em prol da reeleição da Presidenta Dilma.

Estava em atividade na rede social com o intuito de gerar uma discussão mais aprofundada das candidaturas a Presidente (a) e as diferenças entre os candidatos neoliberais e os desenvolvimentistas e as consequências de um modelo e de outro modelo para o futuro do Brasil.

A Geração Smartphone, também, estava presente em minha timeline. Um conjunto significativo de pessoas que se contrapõem ao PT e ao Governo Dilma por uma simples questão fabricada externamente, porém, internalizada e radical: ser oposição por ser oposição, oposição sem chances do pró, em uma questão mínima que seja, nem ser pró o seu candidato.

O anti-petismo é uma situação virtual, nascida do fechamento das portas ao contraditório. Tudo o que você argumentar em favor do Governo petista não é aceito, nem os fatos estatísticos reais nem as fontes colocadas nem os textos que publicamos para reflexão, estes não são considerados válidos, porque são “favoráveis” ao PT ou pelo simples fato de não ir contra o PT em toda a argumentação.

A situação se exacerba no momento em que a página de onde se extrai um texto que compartilhamos é quem determina se o texto é válido ou não, mesmo que escrito por um grande intelectual e com reflexões pertinentes, mesmo escrito por Jornalista sério, mesmo com dados confirmados por órgãos públicos, por instituições sérias, por estudos do IBGE, IPEA, FGV, DIEESE, etc. Afora, que toda a informação estatística oficial torna-se um dado manipulado a favor do PT. Blogs como o Tijolaço, o Viomundo? O Portal GGN do Nassif? Etc. É texto de “petralhas”. É pró-governo, não vale! Só vale se tem a chancela da mídia tradicional.

Se você quiser mostrar avanço em uma área da sociedade: crescimento da taxa de emprego com carteira assinada, hoje chegamos ao pleno emprego, certo? A resposta estará na ponta da língua, o pleno emprego é resultado da falta de procura por trabalho, é resultado do Bolsa Família que cria o ócio, ou, tem-se empregos mas eles são de qualidade duvidosa e as exceções viram regras para referendar o pensamento da Geração Smartphone. Quase nenhuma chance para se aceitar o fato concreto do pleno emprego.

Um mundo paralelo, que corre pelas timelines do Facebook e pelas amizades e as conversas instantâneas do Whatsapp, parece ser o único balizador desse conjunto de sujeitos virtualizados pelo smartphone. Todo contraditório se torna uma batalha interior de não aceitação, de desmerecimento do postado e se precisa ganhar a discussão não com contra-argumentos, somente na base de que se gritou mais alto e, então, se venceu a discussão.

Todo texto contraditório que colocarmos no Facebook ou é ignorado ou é refutado com um MAS! Mas o PT fez aliança com o Maluf, Sarney, Renan e Collor, como se fosse este o grande pecado do mundo e o que desmerece qualquer argumento nosso. E é chato constatar que o contrário não é percebido, quando o PP de Maluf e o Kassab fazem aliança com Alckmin/Serra não se tem questionamento, quando o Renan era Ministro da Justiça de FHC não se tem questionamento, ou quando o Heráclito e o Bornhausen fazem aliança com o Eduardo Campos, depois com Marina idem.

O sujeito da Geração Smartphone tem uma barreira a sua frente que não lhe permitem ultrapassar: os sentidos teleguiados e a razão. A corrupção é no PT, as alianças com a velha política é no Governo petista, até a falta d´água se torna externa ao mundo que esse sujeito crê ser o da verdade. Falta d´água é só por uma questão climática e será, quando vier a situação mais crítica dela, capaz do impensado: culparem a Dilma e não o Alckmin pelo problema.

Serra fazia campanha eleitoral em torno da propaganda da “Sabesp exemplar”, lembram?

Esse sujeito parece tão alucinado no seu mundo virtual que a memória se tornou inexistente e é seletiva toda a crítica político-administrativa. Um lado é mau o outro lado é bom. Um lado é honesto o outro lado é corrupto. Um lado é dos bons-administradores o outro lado dos maus-administradores. E só esta dicotomia exagerada se produz no cotidiano da Geração Smartphone.

Como disse antes, toda a informação dada por alguém de fora desse mundo virtual em que vive a Geração Smartphone não é refutada com argumentação, mas com desqualificação dela e da fonte e/ou do dado estatístico. O mundo da Geração Smartphone não aceita ouvir o que vai além das trocas de informação com as amizades que possui e de suas fontes seguras de notícias, que trazem mastigado tudo aquilo que eles querem ouvir e acreditam piamente, como é o caso da “Eleição fraudada”.

Ela não tem a capacidade de enxergar o que a Revista Veja fez três dias antes do segundo turno. É uma “fraude do TSE” o direito de resposta dado ao PT. O TSE é presidido por um Ministro Petista e isto torna irrefutável que o direito de resposta é uma “fraude” em prol da vitória de Dilma.

Nesse mundo fechado das timelines a capa e o conteúdo da Revista Veja se tornou uma viral e parecia doentia a necessidade de mostrar ao mundo todo aquela “verdade”, de justificar o seu anti-petismo através da Veja. Um “bandido” se torna um herói, porque ele disse que Dilma e Lula sabiam de tudo!

O personagem criado na Geração Smartphone olha exaltado e saciado reportagens como aquela e vibra com as falas de Lobão e se indigna junto. Reparte essa indignação sem tréguas, sem reflexão, sem discutir o conteúdo e a veracidade dos fatos relatados. O sujeito se torna o próprio viral, a própria notícia, a própria propagação do mundo criado para ele mesmo se fechar nele e crê-lo o único verdadeiro e, onde, todas as suas verdades “tim tim por tim tim” estão sendo ditas.

Aécio, neste segundo turno, se tornou uma espécie de GURU, um herói da causa perdida, onde escorraçar o PT do Poder é a única coisa que resta, porque o seu mundo virtual e as suas timelines e amizades concordam: - o PT é o mal a ser extirpado da Nação, o antro mais indecente de corrupção que existe no Planeta, quiçá no Universo.

A Geração Smartphone, certamente, vive das futilidades cotidianas, mas chegam os estertores do tempo eleitoral e ela acorda, e parte para a defesa da sua candidatura anti-petista, defesa que jamais é pró seu candidato. Chega como se soubesse há tempos sobre todos os fatos políticos e eleitorais, como se fosse Cientista Social renomado e tivesse todas as condições de dizer sobre a Política no Brasil e as verdades dela, e tudo dito e acreditado como tendo mais propriedade e saber que os professores Emir Sader e Wanderley Guilherme dos Santos.

O candidato da Geração Smartphone passa a ser o “Salvador da Pátria”, Pátria que está sendo corrompida pelos “ditadores comunistas” e pelos compradores de votos via “Bolsa Família”. O mundo virtual das timelines se viraliza e radicaliza na defesa do seu candidato conforme se aproxima a Eleição e vai se distanciando a Política delas conforme o resultado das urnas fica para trás.

Assustou-me ver a quantidade de pessoas que não sabiam falar das propostas e programas + o modelo econômico que Aécio pretendia impor aos brasileiros, porém, pareciam estar convictos (eram sábios intelectuais) de que Aécio era a candidatura que lhes daria todos os sonhados desejos e a redenção de nosso País dos usurpadores “comunistas” do PT, dos corruptos “petralhas” e da “Ditadora” Dilma. E ai de quem dissesse que o Aécio tinha uma lista corrida de irregularidades, todas reais: com provas documentais, quem mostrasse uma por uma delas! Este era um defensor da “campanha de difamação e mentiras” do PT contra Aécio nas eleições de 2014.

A pergunta que fica: voltaremos à normalidade em breve? Do sujeito retornando ao cotidiano repetitivo da casa, trabalho e consumo? Como explicar a manifestação de ontem na Paulista? Onde, após, terminada a manifestação todos já estavam prontos para ir ao supermercado e para a costumeira balada de final de semana? Novamente, deixo a palavra aos intelectuais.

O que se esperar da Geração Smartphone? Temos caminhos para transformá-la em uma Geração propositiva e consciente, que lute por seus interesses e não, apenas, se enrede por um caminho circular, onde quem menos lhes tem interesse de ajudar é tido como o Salvador da Pátria? Esperemos os próximos capítulos.

Que a esquerda acorde e não deixe esse fenômeno se alastrar mais do que se alastrou. Precisamos trazer de volta ao mundo real a Geração Smartphone!