Entre as Sardinhas e os Tubarões

Entre as Sardinhas e os Tubarões

Jorge Linhaça

Ter as potencialidades reprimidas, ou reprimi-las por falta de condições de colocar em prática todo o conhecimento adquirido ao longo de uma existência é, talvez, um dos maiores pesadelos com o qual o ser humano pode se confrontar.

Olhar para os lados e perceber-se praticamente só nas suas perspectivas gera, de fato, um dilema existencial que impele ou compele a uma introspecção cada vez maior, o que pode levar a um afastamento voluntário de determinados grupos sociais ou por outro lado a uma constante batalha para não sucumbir á tentação de impor seu ponto de vista a qualquer custo.

Em uma sociedade em que a mediocridade (a condição de ser mediano) é saudada como modo de vida e questão se sobrevivência se não se opta por ser um tubarão, qualquer voz que se erga com ideais diversos é contestada e rechaçada com o uso de frases e bordões incapazes de resistir a uma abordagem mais profunda, mas, que estão, de tal maneira entranhados nas mentes humanas, que soam como verdades incontestáveis de tão exaustivamente repetidas que são.

Numa época em que se anseia por celebridade instantânea, torna-se senso comum que todo tipo de artifício seja lícito para se alcançarem os fins desejados.

Não por acaso vivemos uma realidade em que a arte, nas suas mais variadas formas, encontra maior ressonância quando apela para os mais baixos instintos do ser humano. Quanto mais atentatório à moral e aos bons costumes, maior a chance de emplacar um sucesso de público ou vendas.

Encontrar um caminho correto em meio a esse labirinto de interesses financeiros e de egocentrismo apresenta-se como uma tarefa hercúlea ou dantesca, como os seres pecadores condenados a rolar uma rocha até o alto de um monte apenas para vê-la rolar de volta e ter de reiniciar todo o processo novamente.

O desgaste emocional e psicológico é muito maior do que o físico, no entanto a sensação de impotência para deslocar-se do meio do sistema, com algum reconhecimento, pode disparar, vez por outra, o gatilho da depressão ou da prostração.

Já ouvi de várias pessoas que não conseguem um trabalho simples porque seu perfil está muito acima do desejado. Por outro lado, quando buscam uma oportunidade mais próxima do seu perfil, recebem como resposta que lhes falta experiência específica em determinada função. Nada mais paradoxal e incompreensível, se levarmos em conta a primeira situação.

Se sua capacidade está cima do cargo almejado, isso deveria ser visto como um bônus ganho pelo empregador ao contratá-lo, pois, significa que, na eventual vacância de um cargo que exija as suas habilidades ele já terá um funcionário adaptado à empresa para assumir essas funções.

Quanto à segunda hipótese, falta de experiência específica, isso pode ser facilmente contornado com algum treinamento de adaptação aos novos desafios. O que, por certo, pode ter o poder de fidelizar aquele funcionário que pensará duas vezes em aceitar propostas de outras empresas que não investiram no seu potencial.

Esse é apenas um exemplo do que acontece com aquelas pessoas que não são sardinhas e nem tubarões, mas se encontram em algum limbo mal definido.