É DANDO QUE SE RECEBE

Prólogo

Estamos em tempos de montagem de governos. Há disputas por cargos e funções por parte de partidos e de políticos. Ocorrem sempre negociações, carregadas de interesses e de muita vaidade. Neste contexto, se ouve citar um tópico da inspiradora oração de São Francisco pela paz “é dando que se recebe” para justificar a permuta de favores e de apoios onde também rola muito dinheiro. É uma manipulação torpe do espírito generoso e desinteressado de São Francisco. Mas desprezemos estes desvios e vejamos seu sentido verdadeiro.

ECONOMIAS DIVERGENTES

Há duas economias: a dos bens materiais e a dos bens espirituais. Elas seguem lógicas diferentes. Na economia dos bens materiais, quanto mais você dá bens, roupas, casas, terras e dinheiro, menos você tem. Se alguém dá sem prudência e esbanja perdulariamente acaba na pobreza.

Na economia dos bens espirituais, ao contrário, quanto mais dá, mais recebe, quanto mais entrega, mais tem. Quer dizer, quanto mais dá amor, dedicação e acolhida (bens espirituais) mais ganha como pessoa e mais sobe no conceito dos outros. Os bens espirituais são como o amor: ao se dividirem, se multiplicam. Ou como o fogo: ao se espalharem, aumentam.

A MALFADADA DEMOCRACIA DO BRASIL

Em ditaduras ou em democracias (sobretudo quando de fachada, como a nossa), ninguém governa sozinho. Os apoiadores das campanhas (blocos fortes da plutocracia: grandes riquezas que interferem na governança e estruturação do Estado) são regidos pelo princípio do próximo contrato (da próxima licitação). Os políticos (na quase totalidade) são norteados pelo princípio da próxima eleição. Tudo passa pelo vil metal (lícito ou ilícito). Para os degenerados morais o importante é o ganho, não a forma de alcançá-lo, isto é, os fins justificam os meios.

É em torno dos polpudos ganhos ilícitos (como no caso da Petrobras, mensalões do PT e do PSDB etc.) que se formam (em todos os níveis da administração pública) as famosas: Parceria Público-Privada para a Pilhagem do Patrimônio Público. Essa criminalidade organizada (político-empresarial) dissemina no país a corrupção endêmica, que alimenta a cleptocracia: Estado governado por ladrões.

Quem admite essa forma de pensar e atuar de forma tão canhestra não está comprometido com a preservação e evolução do Estado, do país, da sociedade, dos menos favorecidos; ao contrário, está preocupado, exclusivamente, com seus interesses, sua cupidez, seus projetos pessoais. Faz parte da mafialização do país, ou seja, do grupo que hoje podemos denominar mandantes da “casa de mãe Joana” (Brasil).

Atualmente, mais do que nunca, até mesmo muito mais do que ANTES DE 31 DE MARÇO DE 1964, enfrentamos problemas de ordem moral (desvios de conduta), insegurança pública, caos na saúde e de ineficiência administrativa (incompetência gerencial).

CONCLUSÃO

Quero deixar bem clara uma verdade: Nós eleitores brasileiros, infelizmente, somos vítimas e cúmplices deste sistema, desta casta, que comete o crime, para logo em seguida sofrer de amnésia, alcoólica no caso de muitos, ou de ignorância pragmática de atos administrativos eivados de abuso de poder.

Por que nós eleitores somos cúmplices? Ora, muito simples, nós somos o poder que elege esta corja ávida para se perpetuar no comando dos desmandos. Não há dúvida: nosso crime, nem sempre cometido à boa-fé, estriba-se, erroneamente, no voto por protesto, ignorância, anarquia, acomodação, baixa autoestima etc.

Nosso drama é que não aprendemos nada da natureza. Tiramos tudo da Terra e não lhe devolvemos nada nem tempo para descansar e se regenerar. Só recebemos e nada damos. Esta falta de reciprocidade levou a Terra ao desequilíbrio atual.

Portanto, urge incorporar, de forma vigorosa, a economia dos bens espirituais à economia dos bens materiais. Só assim restabeleceremos a reciprocidade do dar e do receber. Haveria menos opulência nas mãos de poucos e os muitos pobres sairiam da carência e poderiam sentar-se à mesa comendo e bebendo do fruto de seu trabalho e não se refestelando pelo assistencialismo criminoso estatal.

Há mais sentido partilhar do que acumular, reforçar o bem viver de todos do que buscar avaramente o bem particular. Que levamos da Terra? Apenas bens do capital espiritual. O capital material fica para trás. É lamentável, mas, parece que muitos, principalmente os agnósticos ateístas, não acreditam no desencarne, mais cedo ou mais tarde, sem levarem bens materiais.

O importante mesmo é dar, dar e mais uma vez dar. Só assim se recebe. E se comprova a verdade franciscana segundo a qual “é dando que recebe” ininterruptamente amor, reconhecimento e perdão. Fora disso, tudo é negócio e feira de vaidades.

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NOTAS REFERENCIADAS

– Noticiosos de uma forma geral; imprensa falada, escrita e televisada;

– Fragmentos de textos de Leonardo Boff e Luiz Flávio Gomes;

– Assertivas do autor que devem ser consideradas circunstâncias e imparciais.