Sou Mulher

Na tarde de 19 de julho de 1553, Maria I Tudor, “A Sanguinária”, foi declarada rainha da Inglaterra. Século XVI. Nessa época, “a ideia de uma mulher na chefia do governo era contrária à considerada ordem natural das coisas. As mulheres eram vistas como inerentemente fracas, pecadoras, que necessitavam da orientação masculina o tempo todo”.

No Brasil, apenas agora tivemos a eleição de uma mulher para a presidência da República. Século XXI. Se está fazendo um bom governo ou não é outra história. Mas isso nos dá uma ideia do tempo em que a mulher tem sido mantida sob a bota dos homens. Claro que antes da Dilma tivemos Indira Gandhi, Margaret Thatcher, Golda Meir, Cristina Kirchner e outras. Mas todas pertencentes à história recente.

Não se admira, portanto, que vez por outra a mulher precise dizer: “sou mulher”. Reivindicando para si atributos a que não estamos acostumados, tendo em vista a preponderância dos atributos masculinos. Dos femininos, o único de inevitável reconhecimento universal é o que caracteriza a mulher como máquina do prazer (“like a, like a sex machine”), responsável por estigmatiza-las como pecadoras. Um dos grandes pecados religiosos, não só da Igreja Católica, basicamente devido ao cobiçado órgão que elas escondem entre as pernas.

Essa flagrante injustiça apenas começa a ser corrigida agora. E ainda assim, de forma tímida, se considerarmos as inúmeras situações sociais em que às mulheres é reservada uma posição de inferioridade. “Mulher, negra e professora é uma merda”, já dizia minha primeira esposa.

É comum acharmos que as mulheres não sabem dirigir. E que por isso estão sempre batendo com seus carros. As próprias mulheres pensam assim.

Há algum tempo tínhamos uma curiosa profissão para as mulheres: “das prendas do lar”. Sendo reservado para elas a culinária, a costura, lavar e passar roupas, etc. Com tais tarefas proibidas aos homens.

Depois, poderiam ser, no máximo, professoras. Secretárias jamais, porque havia o risco de seduzirem o chefe, traindo seus maridos, se fossem casadas.

Na vida social moderna, muitas mulheres ainda precisam “submeter seu julgamento e posição à autoridade dos homens”. O que significa, em muitos casos, um conflito entre a sua criação e a sua formação ou o que carregam dentro de si – conflito que as mais impetuosas, inteligentes e cultas deverão manter pelo resto de suas vidas.

As alterações dessas condutas vão se processando de forma lenta, poderíamos repetir, tímida ainda. O que nos leva à conclusão de que a real emancipação feminina ainda está um pouco longe de ser alcançada.

Rio, 17/01/2015

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 18/01/2015
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