Os Desejos do Leviatã

“O poder corrompe no exercício diário da impunidade”. Frase creditada a Rodrigo Fonseca ao comentar “Leviatã”, filme russo em exibição no Estação Botafogo, Rio de Janeiro. Aliás, de um modo geral, não se vê filme sem maior apelo comercial na Barra da Tijuca.

Lembra ainda o comentarista que “Leviatã é a encarnação de um monstro mítico, definido no Velho Testamento como a medida das fraquezas do Homem”. O mesmo monstro que “serviu ao filósofo Thomas Hobbes, no século XVII, como metáfora para a soberania absoluta de um monarca, cuja vontade é Lei, com ‘L’”.

Monstro que exprime “as fraquezas do Homem”. Mas também seus fracassos. Com tendência a se propagarem pela “alma humana”, com maior incidência em estados onde a corrupção parece estar institucionalizada. Merecendo certa ou muita pertinência a comparação com o caso brasileiro.

Então a corrupção, se não está estabelecida em Lei, acha-se “protegida” pelos instrumentos legais. Como as prerrogativas excrescenciais que detém os políticos e que não estão ao alcance do cidadão comum. O que faz com que esteja ao alcance de qualquer cidadão comum, como é natural, a ideia de se tornar um político. Para dispor das mesmas prerrogativas.

Ontem, na esquina da Av. das Américas com a via de acesso à ponte Lúcio Costa, um cadeirante, que vive do comércio informal, me dizia no sinal fechado que “não há político honesto”. Quando lhe perguntei a respeito do que tinha sobrado da sua tentativa de candidatar-se a vereador ou deputado. Trata-se, portanto, de uma pessoa do povo, provavelmente sem formação superior, mas que, vivendo numa cidade como a nossa, pode queimar etapas e chegar a generalizações desse tipo. Numa total desesperança em relação aos políticos brasileiros. Ou brasileiloeiros. Que são as pessoas encarregadas ou envolvidas com o Poder Legislativo. Com “L”.

Imagino tratar-se de filme que deve ser bem mais interessante que “50 tons...”. Sobretudo pelo paralelismo com a situação do Brasil. Mas que jamais vai merecer a divulgação que têm as películas em exibição nos melhores shoppings da cidade. Porque shoppings são locais onde se tem de vender muito para a satisfação dos desejos avarentos, e jamais atendidos, dos proprietários das lojas. Ou de todo o shopping. Como locação, condomínio, etc. Juntamente com impostos de toda natureza. Outro fator que impulsiona a inflação. Diretamente relacionado à impulsividade dos nossos desejos.

Enquanto isso, o Carnaval tem a assombrosa divulgação, sistematizada pela rede Globo de Televisão, que não deixa de contribuir também para a impulsividade dos nossos desejos.

Rio, 13/02/2015

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 13/02/2015
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