Reminiscências... (EC)

Minha família nordestina, composta por painho, mainha, mana mais velha, mano mais velho, mana mais nova, mano um ano mais velho que eu e eu, com três anos de idade, seguindo os avós maternos, resolveu migrar para o Sul Maravilha, como era conhecida a cidade de São Paulo ‘naqueles tempos’!

Com painho permanecendo na cidade origem, com o fito de acertar os últimos detalhes relativos ao ‘desapego’ das tralhas ainda restantes, à saída do emprego estável que tinha e algumas despedidas de donzelas que por lá conhecia, rumamos para nosso destino, fazendo desgastante viagem marítima até o Rio de Janeiro e de lá, via transporte férreo até São Paulo.

Assim começou nossa verdadeira odisseia pelo lugar que, à revelia das dificuldades tremendas que enfrentamos, resolvemos (alias, resolveram por mim... rs) estabelecer nosso domicilio.

Com a chegada posterior de Painho, que apesar de para a época ter um estudo considerado de bom nível, haja vista ter o primário completo, não encontrar de imediato uma colocação de acordo com o padrão que mantinha lá pelo nordeste, fazendo com fossemos viver em cortiço, equivalente nos dias de hoje a algumas favelas da periferia.

Entre ‘trancos e barrancos’ fomos deixando a vida nos levar...

Com o frio tremendo que fazia no inverno do sul, somente o aconchego familiar não bastava para esquentar os corpos enrijecidos pelo rigor da estação... Foi assim que mainha e painho encomendaram mais um pimpolho para compor o quinteto. Sai da confortável posição de caçula, trono agora ocupado pelo meu mano paulista!

Com a chegada do guri, as dificuldades que enfrentávamos aumentaram, porém, o espírito guerreiro de mainha a tudo sobrepujava. Nem bem meu maninho caçula completou seus dois aninhos, fomos presenteados com a chegada de mais um guri... Num repente, de caçula para um terceira posição!

A família agora, era composta por sete elementos, sendo duas moçoilas e cinco varões!

Foi quando painho, ‘fundador’ do antigo IAPI foi informado que fora ‘sorteado’ com um apartamento em conjunto construído pelo Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPI) e que poderia escolher se queria ocupar um disponível na cidade de OSASCO ou na cidade de SANTO ANDRÉ, ambas na periferia da capital! OSASCO pertencendo à Grande SP e SANTO ANDRÉ, considerada interior apesar de sua proximidade da capital, pertencente ao Grande ABC!

Especulando aqui e acolá, colhendo opiniões de colegas de trabalho e conhecidos que já ao menos tinham ouvido falar das duas localidades, optou por escolher a até então desconhecida cidade do ABC paulista.

E foi ai, já com 8 anos que aportei...

Com as andanças oriundas das dificuldades enfrentadas em nossa vida pelo sul, com esta idade ainda estava cursando o meu primeiro ano do antigo curso primário e novamente, fui transferido de Grupo Escolar.

E foi uma das melhores fases de minha vida, esta minha infância vivida em Santo André da Borda do Campo, onde, apesar de não termos rio para pescar, animais para cuidar, matas e florestas para desvendar, tínhamos, mesmo assim, ainda muito respeito e amor aos componentes de nossa família como um todo, respeito aos mais vividos, professores, colegas de classe, vizinhos, conhecidos e, acima de tudo, esperança de um futuro melhor!

Embora não tendo ‘sentido na pele’ no sentido amplo da palavra, os traumas de uma migração, procurei resguardar no meu íntimo minhas origens e, embora à distância, amor ao solo onde nasci!

E, para a cidade que nos acolheu, propiciou estudos, trabalhos iniciais, momentos de lazer, prática de esportes, desenvolvimento físico e intelectual, como exemplo maior, dando-me oportunidade de ter como primeira MESTRA alguém com a capacidade, dedicação, conhecimento e amor pelo que fazia em prol de seus educando.

Para Dona Rafaela, que me ensinou o bê-á-bá, primeiros passos na aritmética, primeiros passos em redação, primeiros passos em geografia, primeiros passos em história do Brasil e Educação, Moral e Cívica, primeiros passos em religião e música, para minha queridíssima Santo André da Borda do Campo, EU TIRO O MEU CHAPÉU!

P.S.: Enquanto concebia este humilde texto, fui agraciado por minha esposa e ouvi esta canção que ainda não tinha ouvido e que me calou fundo no coração. Então, embora possa parecer muito brega para muitos, resolvi compartilhar para que desejar ouvir. Eis o link: https://ouvirmusica.com.br/frank-aguiar/lamento-de-um-sertanejo/

Este texto faz parte do Exercício Criativo - A Cidade de Minha Infância

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http://encantodasletras.50webs.com/acidadedaminhainfancia.htm