Minha filha se tornou evangélica, E daí?

MINHA FILHA SE TORNOU EVANGÉLICA. E DAÍ?

Depois que minha filha Ana Maria publicou no Facebook fotos e vídeos recentes de sua atividade em sua igreja, em Santa Catarina, algumas pessoas se mostraram escandalizadas pelo fato dessa adesão a uma Igreja Evangélica. Numa das missivas que recebi, um padre conhecido meu, com pouca sensibilidade e a mínima caridade questionou o fato, como que me responsabilizando pelo ocorrido “como pode ocorrer isto com a filha de um casal católico, operadores de teologia”.

Uma atitude desse tipo me recorda uma senhora, amiga minha, que me procurou, desesperada, há uns dez anos atrás, informando que seu filho, criado no catolicismo, havia mudado para uma igreja pentecostal por influência da esposa. Para tranquilizar a mãe aflita, eu lhe disse que não se preocupasse, pois dependendo da reta intenção do seu coração, ele haveria de se salvar lá, na nova igreja.

Este preambulo nos leva a questionar: por que as pessoas mudam de religião? Não se trata, como acusou o padre que me escreveu, de uma perda de fé, pois na outra igreja ela, a meu ver, continua professando sua fé com vigor, adoração, espírito de oração e as demais virtudes que caracterizam a vida de quem crê no Deus Uno e Trino. A causa, portanto, dessa troca é mais profunda e vai mais longe. Ana, desde sua infância conviveu com nossas atividades de Igreja, e depois participou do Nazaré, Cenáculo, Emaús e Cursilho. Quando foi para Santa Catarina acompanhando o marido, tornou-se catequista em sua comunidade.

Logo se decepcionou com o autoritarismo e a prepotência do pároco e das freiras, e decidiu trocar de lado. Lá, além da acolhida que não conhecia, foi convidada, ela e o marido para estudar teologia e preparar-se para a atividade de pastores, e hoje participam ativamente da comunidade, como mostra o vídeo do Facebook. O importante nessa atividade é se sentir bem e útil aos outros. Talvez, por conta dessa acolhida que nós não sabemos dar, é que o Brasil hoje é considerado “o país mais evangélico do mundo”, com 55% da população praticante do pentecostalismo.

Vendo bem, a filha e o genro tem mais espaço pastoral que nós, Carmen e eu, apesar de nossa formação, temos hoje em nossa Igreja. Não vou mudar de religião, mas tudo isto me deixa reticente e extremamente crítico. Depois de pregar em novenas e romarias e dar cursos por todo o Brasil, hoje me sinto meio deslocado, alijado das atividades litúrgicas. Sou mais demandado longe do que perto... Quando me convidam para uma novena, por exemplo, vejo primeiro quem são os pregadores. Se sentir que vão apresentar menos que eu, prefiro não ir para não me desgastar.

Como disse, respeito as decisões e os motivos dos que trocam de religião. Eu, porém, apesar dos obstáculos, prefiro ficar na minha. Graças a Deus.