Sigmund Freud (1856-1939) numa perspequitiva  pessimista quanto ao processo civilizatório irá constatar que a civilização  origina-se a partir da repressão às pulsões e seu posterior desenvolvimento dá-se pelo deslocamento das pulsões sexuais dos seres humanos, levando a uma economia da libido. Para Freud, a civilização “tem de ser defendida contra o indivíduo e seus regulamentos, instituições e ordens dirigem-se a essa tarefa”. O ser humano ao civilizar-se vive o dilema entre conciliar a liberdade individual e a repressão que é inerente ao processo, além de se ver impotente diante das forças da natureza, a certeza da morte e dos conflitos nas relações entre seus semelhantes. O princípio do prazer, deste modo, revela-se irrealizável. A castração do prazer e a repressão necessária à vida em comum leva os seres humanos à culpa e à infelicidade. A agressividade é potencializada pela extração da libido; essa energia liberada é utilizada para o trabalho. Na perspectiva freudiana a civilização se assentaria num mal estar. Freud a define  como:
 
Tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de sua condição animal e difere da vida dos animais [...]. Por um lado, inclui todo o conhecimento e capacidade que o homem adquiriu com o fim de controlar as forças da natureza e extrair riqueza desta para a satisfação das necessidades humanas; por outro, inclui todos os regulamentos necessários para ajustar as relações dos homens uns com os outros e, especialmente, a distribuição da riqueza disponível. (FREUD, 1996a, p. 15-16).
 
A hipótese de Freud é que o fato originário de nossa formação civilizacional dá-se pelo assassinato do pai originário e castrador. Ele demonstra suas teses a esse respeito no ensaio Da horda primitiva à família onde propõe a cena de um provável banquete totêmico onde o clã mata cruelmente seu animal-totem, e onde estranhamente os membros do clã mantém relação de identidade com o totem, como se fossem parte dele, segundo Freud é a má consciência que aflora, a culpa individual de cada um dos elementos do clã pelo assassinato; mas que é justificada na medida em que todos cometem o ato. Seguem-se lamentos e prantos provocados pelo temor do castigo que tem, no rito, a função de retirar do clã a responsabilidade pelo assassinato. Em seguida ao pranto, ocorre um banquete onde todos se refestelam e isto se constitui numa atitude afetiva ambivalente que, para Freud, se traduz no complexo do pai nas crianças.

A hipótese de Freud sobre o banquete totêmico é que o animal-totem representa a figura de um pai violento e dominador que se apossa de todas as fêmeas e reprime seus filhos até que um dia os irmãos reagem, matam-no e comem-no, a fim de superá-lo. Devorar o pai dominador significa se apossar simbolicamente do seu poder, pois o pai era o modelo, invejado e temido pelos membros do clã. Para Freud:

 
O banquete totêmico, que é talvez a primeira festa da humanidade, seria como que a reprodução e comemoração dessa ação memorável e criminosa, que constituiu o ponto de partida para tantas coisas: organizações sociais, limitações morais, religiões. (FREUD, 1985, p. 106).

É certo que muitos aspectos de sua teoria da mente, que pretendeu explicar a partir dos processos psíquicos inconscientes, acompanhadas de uma técnica terapêutica para as pessoas afetadas, são questionáveis e muitas de suas suposições não são comprováveis; entretanto, pensamos que Freud é um clássico, não há como se referir a modernidade sem tocar nas feridas abertas por ele, quanto ao mal estar em que se deu o processo civilizacional.

Podemos inferir das teorias de Freud que a educação, historicamente, se dá pela repressão, pela disciplina e pela autoridade, através da castração da libido e pela sublimação das pulsões e a canalização do desejo sexual para o desejo de conhecer. Nesse sentido, o professor substitui a figura do pai castrador, sendo detentor da autoridade sobre o conhecimento e sobre os alunos. A esse respeito, o Professor Unrät, (1905) a novela de Heinrich Mann (1871-1950) imortalizada no filme o Anjo Azul (1930), é o modelo do professor ginasial autoritário e sádico que reprime, mas ao mesmo tempo perverte a ordem burguesa.
Labareda
Enviado por Labareda em 07/06/2015
Reeditado em 07/06/2015
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