A PERDA DA CAPACIDADE

A PERDA DA CAPACIDADE

Um dos sinais mais assustadores da vida humana é quando chegamos à conclusão de estarmos perdendo referenciais, o que nos coloca nas valas comuns da mesmice, da mediocridade e da covardia. Para dilucidar esse preâmbulo, quero esclarecer que estou me referindo à perda da nossa capacidade de indignação. E não vou me referir à corrupção do Estado, nem à desfaçatez do Legislativo, ao corporativismo do Judiciário ou à truculência das polícias. É claro que contra esses cabe uma gritante indignação, muito maior que meia-dúzia de baderneiros incendiando lixeiras ou quebrando vitrinas de bancos.

O centro da idéia desta minha diatribe aponta para os assaltos e agressões que a minha Igreja, a católica, vem sofrendo por parte de seus inimigos, vândalos e detratores, a saber, grupos de pessoas que se autoproclamam “pastores”, “bispos” (e “bispas”), “apóstolos” ou “missionários”, arrumadinhos, engravatados, de unhas polidas e cabelo pintado, sem a mínima formação doutrinal e teológica, desses que exploram os crentes auferindo recursos fantásticos para manter no ar seus programas televisivos, onde os falsos milagres abundam e a verborragia ferina não cansa de atacar a dimensão humana da instituição Igreja Católica, no ar há mais de dois mil anos. Eles falam, escrevem e vociferam como se donos da verdade e dominadores das forças das trevas fossem, como se suas Igrejas fossem perfeitas e não houvesse pecadores em sua grei. Vamos nos cuidar, pois esses movimentos podem passar da homofobia para cristofobia.

Mas, o meu alvo neste artigo não são eles, mas os próprios católicos que silenciam, que demonstram um falso ecumenismo covarde, incapaz de se indignar e partir para o indispensável revide. Eu me refiro ao absurdo que foi a “crucificação” de um travesti seminu na “parada gay” de São Paulo, há poucos dias. Exceto a CNBB e algumas paróquias isoladamente, não vi mais ninguém repudiar o abuso. As dioceses, os padres-cantores, os programas das tevês ditas católicas e seus “teólogos”, todos silenciaram. Medo ou aprovação? Eu nem vou entrar nessa discussão dos evangélicos, se eles acham que a cruz é um objeto sagrado ou não. Vou me ater, de forma indignada, como o fez Silas Malafaia tão-somente ao desrespeito e ao abuso. A Igreja do pastor nem cultua cruz como símbolo religioso... Para nós católicos a cruz é algo que fala aos nossos sentimentos e à nossa fé. Desrespeitar símbolos religiosos é crime segundo o artigo 208 do Código Penal. Só isso!

Eu reconheço a virulência da violência e a discriminação contra gays e assemelhados. Trata-se de um conjunto de atitudes injustificáveis. Mesmo assim, me manifesto indignado pela forma como demonstraram sua desconformidade, desrespeitando a cruz.