Participe, saia da platéia e torne-se um protagonista

Estou admirado de quanta bobagem eu já li neste turbilhão em que estamos no que concerne à redução da maioridade penal no Brasil. Os argumentos vão em duas linhas basicamente. Primeiro, as pessoas assumem que, por reduzirmos a maioridade de 18 para 16 anos, automaticamente estamos condenando nossos jovens ao cárcere. Segundo, que a pessoas, nos dias de hoje, até completarem dezoito anos, não sabem o real significado de seus atos e não devem ser responsabilizadas por eles.

Bom, antes de mais nada, é necessário esclarecer que nossos políticos são dados a incríveis manobras, principalmente quando isso pode lhes trazer algum benefício. Por exemplo, autorizaram o voto do analfabeto, pois isso lhes traria uma facilidade a mais, nestes tempos de Brasil urbano, em que muitos e muitos votos são necessários para eleger um vereador, um deputado. Não contentes com isso, autorizaram o menor de 18 anos (e maior de 16) a votar também. E, agora, pensam em garantir o voto conservador nas próximas eleições, juntamente com boa parte dos votos da classe média (urbana e apavorada pela industria do medo).

Voltando ao “menor” eleitor: este indivíduo, pode ser responsável pelos seus atos enquanto eleitor, somente quanto ao voto, pois se achar por bem atirar uma pedra (enquanto espera na fila para votar) e esta pedra ferir alguém (Lesão corporal) ele já não será mais responsável (pois é menor de 18). Incoerente, ou não?

Introduzidas estas premissas, é necessário parar de colecionar casos extremos, casos patológicos ou mesmo aqueles milagres da reconversão. Aqueles casos escabrosos, que nem de longe representam números significativos estatisticamente, os pontos fora da curva, explorados à exaustão pela mídia que fabrica o medo. Fiquemos na média, no meio termo da vida normal. Muito bem, quem tem família, ou núcleo familiar, não importando aqui de que tipo de família falamos (se tradicional, mono isso ou aquilo etc etc) sabe desde cedo que não deve pegar o que é do outro (roubar, furtar) não deve matar, torturar animais, ser cruel ou FDP. Isso é simples, ou não?

Então, basta crescer em uma comunidade coesa, com dia a dia equilibrado para saber, desde pequeno, estas coisas (óbvias). Portanto, mais de 95% dos jovens não será afetado pela redução da maioridade penal. Serão afetados os casos extremos, serão afetados os casos patológicos, serão afetados os que não tiveram as premissas descritas acima. E, para estes, nós já reservamos a Fundação Casa, que é o que temos de pior na sociedade no sentido de educar alguém. Satanás não seria capaz de inventar algo mais perverso. Pois bem, parece que o problema está exatamente naquelas pessoas que por “n” motivos não possuem estrutura “familiar” ou comunitária adequada.

Muito simples: erradiquemos a pobreza, façamos escolas de qualidade para todos e vocês não vão ver mais a Fundação Casa cheia de jovens infratores. Vai sobrar vaga em presídio. Mas, para isso, temos de ter políticos melhores, pessoas com espírito público e não esta gente que anda solta por aí.

Quando eu escrevo escolas de qualidade, eu penso em escolas e não naquelas salas insalubres, sem estrutura, sem biblioteca, sem multimídia, sem acesso à informação, apenas com um cimentado que chamam de quadra e uma outra sala que serve a merenda (que chamam de cantina). Vamos parar com isso. Empilhar aluno não é mandar pra escola. Quem empilha aluno, empilha jovem infrator e, depois, empilha adulto nos presídios. Gritar contra a redução não adianta nada se não soubermos de uma vez por todas o que queremos de nossas vidas, do nosso país. Fomos para as ruas e voltamos para casa. Não é assim! Eu vou nas discussões do Plano Diretor e vejo só uma meia dúzia interessada no próprio nariz. Ninguém se liga no vizinho, ninguém quer saber da calçada, ninguém quer saber da qualidade de nada. Todos só sabem reclamar. Que tal começar a freqüentar a escola do seu filho? Que tal freqüentar a Camara Municipal? Todos somos responsáveis. Parem de achar que alguém vai resolver, que alguém vai consertar, que outro é o responsável por fazer. Enquanto a sociedade for egoísta e introspectiva, enquanto não nos dermos conta de que a união é o caminho, sempre teremos de lidar com pessoas (políticos) oportunistas. Por outro lado, pessoas já estão ocupando praças, outros estão se associando pelo bem comum, pelas calçadas, pelos parques, por uma cidade melhor. Ocupe a escola do seu filho, conserte a torneira, pinte a parede, doe livros, se meta na cozinha, cobre - mas contribua. Mostre para os professores, para a diretora, para a comunidade que você se importa. Desligue a TV que te ensina a ter medo e vá para a rua. Ocupe a rua, mude sua comunidade, organize as pessoas – participe. Não tenha preconceitos e sim a mente aberta. Quem foi na avenida Paulista na inauguração da ciclovia sabe do que falo. Mas se você não foi, feche uma rua do seu bairro no próximo domingo e convide todos para sair e usufruir da vida. É assim que se muda uma sociedade. Leva tempo e dá trabalho e mais: ninguém vai fazer isso pela gente se a gente não fizer.

Ocirema Solrac
Enviado por Ocirema Solrac em 03/07/2015
Código do texto: T5298165
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