UM LEÃO CHAMADO CECIL

UM LEÃO CHAMADO CECIL

A comunidade mundial está chocada com a morte brutal do leão Cecil, em uma das reservas de animais do Zimbábue, na África Austral. O matador do leão é um dentista norte-americano, de Minnesota, que de uma hora para outra se tornou o novo inimigo número 1 da humanidade, que já foi condenado nos Estados Unidos pelo crime de caça ilegal.

O fato de o criminoso ser homem, branco, heterossexual e rico – ou seja, não faz parte de nenhuma minoria discriminada – coloca-o na mira das associações mundiais que defendem a vida animal, especialmente as espécies raras e ameaçadas de extinção.

O animal, um belo e raro exemplar pardo de juba preta tinha 13 anos e era conhecido pelo comportamento amigável com visitantes do parque nacional Hwange, o principal do país. Segundo relatos, o leão teria sido atraído para fora do parque Hwange, onde a caça é ilegal, durante uma perseguição noturna. Após ser abatido com arco e flecha, depois fuzilado, Cecil foi degolado e teve a pele arrancada.

Não é difícil imaginar o caçador impiedoso, que pagou 50 mil dólares (cerca de R$ 170 mil) pela desastrada aventura, no puro estilo anglo-saxônico posando, rifle na mão, com um pé sobre a vítima exibindo sua vaidade de uma pretensa raça superior. As grandes organizações mundiais que lutam pelos direitos dos animais querem a extradição do dentista-matador para que seja processado no Zimbábue, candidato inclusive à pena de morte. Pleiteiam, também, a proibição da caça – pelos americanos, que é quem mais executa esse “programa de índio” – de troféus de caça. Uma pessoa conhecida afirmou que, como pena, se devia colocar o criminoso numa jaula, com uma das fêmeas de Cecil mais alguns filhotes famintos.

Com a morte de Cecil não temos a lamentar apenas a morte cruel de um belo felino, legítimo animal–símbolo da região. De fato, com o desaparecimento de Cecil não apenas os turistas do Zimbábue perderam, mas toda a humanidade ficou mais pobre. Eu recordo, e vem bem a calhar ao caso, que minha mãe ensinava “fazer mal aos animais é indício de mau caráter”.

No contraponto da barbárie na África, há uns quinze dias, durante as enchentes no Rio Grande do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, um homem pobre, desempregado, arranjou emprestado um ônibus velho, quase uma sucata e recolheu uma centena de cachorros de rua, salvando-os da ameaça das águas.