AS RELAÇÕES HUMANAS E A INVEJA

As relações humanas e a inveja

As relações humanas são fantásticas! Há nelas um incrível conteúdo de luzes e sombras, bem e mal, noite e dia. Em todos esses aspectos se observa um desejo de controle e superação. Desde criancinha o ser humano busca controlar, manipular a vida dos pais. Este comportamento, inicialmente instintivo, como um mecanismo de defesa, aos poucos, na medida em que a idade avança vai se tornando uma patologia. Na maior parte das “relações humanas” as pessoas oferecem o que não querem dar e depois “cobram a conta”. Vivemos em uma sociedade de muitas “cobranças”. Entre os tantos anti-valores, talvez o que mais deteriora as relações humanas é a inveja.

Por conta do desejo natural de superação surge a inveja, que passa a dominar as relações, onde um, inconformado com o sucesso do outro, passa a diminuí-lo, estabelecendo com ele uma situação de confronto. Não suporta o invejoso que alguém saiba mais que ele, tenha mais que ele, seja mais aceito que ele. Enquanto os inteligentes debatem ideias, os medíocres discutem ações.

Como há medíocres e brilhantes em uma sociedade, é natural que os medíocres agridam os brilhantes por não suportarem o brilho deles. Nesse confronto inevitável das sombras contra as luzes, os menos dotados que invejam os outros, querem passar uma imagem de quem sabe tudo, opinando, dando pareceres, exarando palpites furados, ministrando conselhos na vida dos outros, conselhos esses que eles próprios não sabem aplicar às suas vidas. O pior medíocre é o que deseja superar o brilhante. É aquela história da cobra que queria devorar o vaga-lume: “não suporto o seu brilho”.

Do confronto brota uma estratificação, que estabelece como degraus, onde o inferior se diminui em relação ao outro. do mesmo modo que visa suplantá-lo. Essa estratificação gera complexos, traumas e submissão, geradora, não-raro de crises existenciais, depressões e conflitos. Na estratificação encontramos degraus nas relações entre patrões e empregados, pais e filhos, padres/pastores e fiéis, médicos (e outros profissionais da saúde) e pacientes, professores e alunos, etc. Esses degraus criados a partir da dominação opressiva e do orgulho são capazes de gerar o confronto social e a inaceitação conceitual.

Da inaceitação brotam os complexos, os desajustes e as depressões, que hoje são objeto de estudo da psicanálise, da psicologia e da filosofia clínica. Os efeitos desses descaminhos, como a rejeição, o isolamento, a perda da capacidade de sentir, de se relacionar e de exercer trabalhos físicos e mentais, assim como a perda dos mais vivos referenciais de vida, tudo contribuindo para o desastre pessoal, familiar, social e laboral. Em geral todo invejoso é um deprimido.

A depressão é um recado que a mente manda ao corpo dizendo que está precisando de alguma coisa, que algo está errado, que o amadurecimento emocional está em risco. O deprimido, em geral, adoece para não enfrentar a vida. Adoecendo, assim como a criança, a pessoa fica poderosa, ganha status, imunidades, torna-se o centro das atenções. Isto vem do inconsciente. Nesse aspecto, a depressão é uma doença “do corpo como um todo”, que compromete o corpo, o humor e o pensamento, como o indivíduo se sente em relação a si próprio, aos outros e como pensa sobre as demais coisas.

Os terapeutas recomendam que se substituam os fatores geradores de conflitos por aquilo que produza bem-estar e bom humor. É mudar a adrenalina que agita pelas endorfinas, que acalmam. Os especialistas do comportamento costumam afirmar que o bom humor é a substituição de algo não-prazeroso por alguma coisa que dê alegria. Alegra-se a pessoa que sabe amar, que amando a partir de si próprio, ama o outro e é correspondida nesse sentimento.

Em geral o que mais deprime a pessoa é a sensação de impotência ante os problemas e as ameaças constantes que se abatem sobre a vida humana. Essa incapacidade, na maioria dos casos, leva à inveja, que é um dos frutos podres do ressentimento. A terra – no dizer do jornalista Paulo Sant’ Ana – seria um paraíso para os medíocres se não existissem os brilhantes. O medíocre cônscio da sua inferioridade é mais feliz do que o arrogante. Ele sofre, se deprime e perde o bom senso da auto-estima. Charles Chaplin († 1977) em um de seus magistrais discursos dá as consequências de amarmos bem, a partir de nós mesmos:

Quando me amei de verdade,

Compreendi que em quaisquer circunstâncias estava no lugar

certo, no momento exato. E então pude relaxar. Hoje sei que

isto tem o nome de auto-estima;

Parei de desejar que minha vida fosse diferente, e comecei a

ver que tudo o que acontece contribui para meu

crescimento. Hoje chamo isto de amadurecimento.

Desisti de ficar remoendo o passado e de me preocupar com

o futuro. Agora me mantenho no presente, que é onde a vida

acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isto é plenitude!

Amar a si próprio não quer dizer tornar-se egoísta. Só sabe amar quem aprende a gostar de si próprio. Por não saber amar, o ser humano em geral não é verdadeiro, passando a viver de máscaras. Ele recobre seu rosto com a cera da imagem falsa, e nesse esforço de aparentar algo distorcido, falta-lhe a sin-ceridade. O indivíduo sin-cero é aquele cuja atitude física e moral se apresenta sem a cera do engodo e da falsidade.

Para organizar as relações humanas, as ciências do comportamento idealizaram um instrumento de apoio que a Psicologia chama de “Janela de Johari” que é uma ferramenta conceitual que tem como objetivo auxiliar no entendimento da comunicação interpessoall e nos relacionamentos com um grupo. Este conceito pode aplicar-se ao estudo a interacção e das relações interpessoais em várias situações, nomeadamente, entre indivíduos, grupos ou organizações.

O autoconhecimento é indispensável ao que lida com mediação de conflitos, para assegurar que os seus próprios conteúdos não contaminam as interpretações das manifestações das partes em litígio. A Janela Johari abre uma instigante percepção a esse respeito. Oportunamente estaremos publicando uma matéria específica sobre esse tema.

Por contas das máscaras e dos comportamentos inadequados, muitos casais resolvem usar uma tática pouco salutar, chamada de “discutir a relação”. Essa discussão, que em geral não é espontânea, mas provocada por um dos lados, por repetitiva, massacrante é doentia, um perigo que só prejudica, pois visa impor à cabeça do outro o que a gente pensa. O grande erro nas relações humanas, seja no campo familiar ou no profissional, é forçar a ocasião para o diálogo.

A sintonia deve ser espontânea, sem comando, agenda ou pressão. É aquela história de oferecer o que não se quer, para depois cobrar uma conta muito alta, que talvez o outro não possa (ou não queira) pagar. Não está satisfeito com sua vida? Reveja o que você está plantando!