Agonia Destemperada

Vivemos, sem dúvida, uma situação de muito desconforto. Presença de uma inflação crescente, economia praticamente estagnada, pífios índices de desenvolvimento, escalada de desemprego, etc. O desconforto não é experimentado apenas pelos governados, senão também pelos governantes. Que, por pior que possam parecer, estamos certos de que não desejariam esse estado de coisas para o seu país de origem. Estado de desconforto de que só se aproveitam os áulicos e os oportunistas que se valem de prerrogativas institucionais para exercerem, por exemplo, cargos de presidentes das casas do Congresso, mesmo respondendo a inquéritos/processos em tramitação no STF. Ou determinados negociantes e empresários cuja alma foi moldada na obtenção do lucro imedido a qualquer preço.

Tudo isso é incontestável. Ou o é de alguma forma. No entanto, esperamos que qualquer solução para o problema se dê pela via democrática. Se existe roubo em excesso, corrupção, etc., que os culpados sejam exemplarmente punidos. E de alguma forma estão sendo. Ainda que não exatamente como desejássemos.

O que não se pode admitir é que por conta desses abomináveis desmandos, dessa orgia corruptiva protagonizada por negociantes civis e políticos de todos os partidos, o que não se deve aceitar é que tenhamos como solução a agonia destemperada do sentimento reacionário. Como o compartilhado pelos depoimentos alucinatórios dos que elogiam os generais-presidentes do golpe de 64, lembrando que muito deles terminaram suas vidas em dificuldades financeiras, dependendo da ajuda de outras pessoas. Numa tentativa de compará-los com a boa vida de que desfrutam os que se beneficiam com as práticas corruptivas de hoje.

Os que advogam essa agressiva postura, até em tom de ameaça, esquecem-se de que esses mesmos generais foram, no mínimo, cúmplices da tortura e desaparecimento de centenas de inocentes, pessoas comuns do povo, além de determinados políticos, que ousaram contrariar a ditadura, fundamentada numa Doutrina de Segurança Nacional inteiramente “made” fora daqui. Isso sem terem conseguido, a despeito de todo o poder despótico a seu dispor, dotar o país dos níveis de desenvolvimento que merecemos. E ainda não temos.

Rio, 23/07/2015

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 11/09/2015
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