DESENCANTO

DESENCANTO

Uso a palavra desencanto para dar título a este artigo mas poderia usar também decepção, desesperança ou outra qualquer que pudesse exprimir o sentimento que mora em meu coração e no de muitos milhões de brasileiros neste momento. Não vemos luz no fim do túnel. As notícias que nos chegam todos os dias pelos diversos meios de comunicação são desalentadoras. Não é necessário ser nenhum entendido de economia para ver a situação preocupante em que se encontra nosso país.

Em qualquer canal de televisão se repetem as cenas diárias de assaltos, muitas vezes com morte. A certeza da impunidade é fator propulsor para o ato, pois as estatísticas mostram a infinita distância entre aqueles que são presos e os que conseguem se safar. E os que são presos são logo soltos, uma vez que os governos não têm condições de sustentá-los nas penitenciárias, que já são verdadeiros depósitos de gente, muitas sem a menor condição de oferecer um mínimo de dignidade à pessoa humana. Outro dia vi uma cena no mínimo curiosa: como as prisões não têm suporte para tanto preso, estão deixando-os soltos e monitorados pelas tornozeleiras eletrônicas. Pois não é que de uma só vez foram apreendidos quatro portadores das tais tornozeleiras praticando novos assaltos? E eles não têm nem a preocupação de disfarçar o objeto usando uma calça mais comprida. Usam bermudas mesmo, deixando à mostra o “prêmio”.

Se olharmos a saúde pública, vemos outro caos. Hospitais com corredores cheios de macas, dos próprios hospitais ou das ambulâncias que socorreram os pobres coitados. E estas permanecem por horas nas portas dos hospitais, impedidas de prestarem novos socorros, pois estão sem macas. No hospital falta médico, falta medicamento, falta até esparadrapo e luvas. E falta paciência, nos doentes e nos profissionais.

Outro dia foi veiculado nas televisões o caso de uma prefeita do interior do Maranhão que roubava descaradamente o dinheiro da merenda escolar do município. Para bancar roupas e carros de luxo com os quais se mostrava, sem nenhum pudor, nas redes sociais. Está foragida e é procurada pela polícia federal. É de cortar coração ver as condições das escolas do tal município, mas não é prerrogativa só destas. Milhares delas neste país inteiro estão em situação semelhante.

Pensar que tudo poderia ser diferente se houvesse maior compromisso com a escolha do político que colocamos nas prefeituras, estados e no próprio governo federal, nas nossas câmaras e congresso nacional, nos faz enxergar que seria o primeiro passo a ser tomado para um dia chegarmos a uma situação menos dolorosa. Mas não votamos nos melhores. Votamos muitas vezes por conveniência, para mantermos os nossos empregos, votamos naqueles que nos prometem uma colocação em algum departamento, ao qual muitas vezes só comparecemos no fim de cada mês para recebermos o pagamento pelo trabalho que não realizamos.

É por coisas assim que ficamos desencantados. Temos um país tão rico. Não nos faltam riquezas naturais, não nos faltam pessoas íntegras e gente trabalhadora. No entanto, nossos valores estão deturpados. Já não nos assombra o político desonesto, porque todos são, dizem. Já não nos admira o funcionário que recebe propina, porque se tornou um hábito. E assim a corrução vai grassando solta país afora. Quase diariamente são descobertos novos golpes, novas falcatruas. Haja polícia para tanto desonesto. Sinceramente, o sentimento é de que não há mais solução, principalmente se nos dermos conta de que são mais de cinco mil municípios nestes vinte e seis estados da Federação, e mais o Distrito Federal. Cada um com uma estrutura viciada e milhares de cargos à disposição, para serem preenchidos ao bel prazer do mandatário.

Felizmente, já vemos manifestações de descontentamento por todo o país. Há povo nas ruas, há greves por melhores condições de trabalho, há gente inconformada usando as redes sociais para mostrar que precisamos mudar. Vamos torcer para que a esperada luz apareça.