Religão, bullying e intolerância - 01

Segundo notícia publicada 02 de setembro no jornal A União, há cerca de um mês uma adolescente se recusa a voltar à escola onde estuda porque foi agredida por colegas por ser adepta do candomblé. Segundo a reportagem, colegas teriam dito que ela era da macumba e uma a chutou, o que fez com que ela batesse com a cabeça na parede. De acordo com a mãe da menina, a escola quase nada fez no sentido de prestar assistência à sua filha após a agressão e esta não seria a primeira vez que a família teria sido perseguida. Em outra ocasião, ao voltar de uma padaria, a mãe e os filhos foram seguidos por um carro ocupado por rapazes que usavam a camisa com o slogan "Exército de Jesus".

Esta triste notícia expõe um grave problema existente na sociedade brasileira: o da intolerância religiosa. Embora sejamos um estado laico, ou seja, um Estado não-religioso, algumas pessoas estão se achando no direito de perseguir, ameaçar e até agredir pessoas que seguem credos diversos dos seus, como se ainda estivéssemos no tempo da Inquisição ou da caça às bruxas e não vivêssemos no século XXI. Tem-se percebido que muitos cristãos andam perseguindo adeptos do candomblé com a justificativa de que os seguidores de cultos de origem africana seriam bruxos demoníacos, o que mostra como a ignorância e o preconceito podem levar à falta de respeito, a ponto de alguém se achar melhor do que os outros por causa da religião que segue, desrespeitando os seus direitos de seguirem a religião que quiserem ou mesmo não seguir nenhuma, porque qualquer um é livre para acreditar ou não em Deus, pois, conforme a Lei, somos um país democrático. Mas essa situação pode ser qualificada como de um país democrático, onde uns se sentem livres para perseguir outros por suas crenças e estes não se sentirem amparados, visto que impera um grande preconceito por parte da sociedade contra eles?

O episódio relatado pela mãe, no qual foram perseguidos por rapazes com camisas estampadas com a frase "Exército de Jesus" relembra um outro caso, no qual uma igreja evangélica teria a impressão de criar uma milícia chamada Gladiadores do Altar. Qual a intenção que se tem ao se formar um grupo desses? Promover a paz ou perseguir? Isso se parece mais com a formação de um grupo terrorista, como a Al Qaeda ou o Estado Islâmico, não um movimento para unir as pessoas e promover a paz.

É incrível como algumas pessoas, dizendo-se cristãs, isto é, seguidoras de uma religião que prega o amor ao próximo, andam cometendo atos de ódio e intolerância, como se estivessem acima do bem e do mal. Tais episódios, além de dar medo, mostram-nos que não avançamos nada no sentido de respeito ao ser humano, visto que ainda agimos como no tempo da Inquisição, onde se perseguiam judeus e suspeitos de bruxaria. Os que se afirmavam cristãos, após alcançar o poder, fizeram aos outros tudo aquilo de que os primeiros cristãos haviam sido vítimas, provando que não eram melhores do que os que antes tinham sido seus algozes, o que pode ser conferido por qualquer um que estudar História.

No começo, após a morte de Jesus, os cristãos foram perseguidos pelos judeus e romanos. Depois que o Império Romano reconheceu o Cristianismo, os que antes eram vítimas se tornaram opressores. Um bom exemplo é o caso da filósofa e matemática pagã Hipatya de Alexandria, que foi brutalmente assassinada e esquartejada pela milícia cristã "parabollani". O chefe desse grupo depois se tornou Papa e foi declarado Santo.

Como podemos observar, religião e poder formam uma combinação perigosa. Aquele que é fanático e acredita que sua religião detém toda a verdade possui uma mente estreita e ignorante, não percebendo que o mundo é multicultural e que cada um vê apenas uma parte da verdade, nunca ela inteira. Por ser fanático e ignorante, ele perde a noção de certo e errado e comete atos brutais. É preciso que se combata a intolerância religiosa sempre.