Bom Exemplo

Sem dúvida não vamos errar se apontarmos o profundo desnível social entre as camadas populacionais como causa básica para a disseminação da criminalidade e da violência, ambas em franca interação com o tráfico de drogas. No entanto, não se pode considerar como desprezível, em termos de modificação da conduta dos indivíduos, o surto corruptivo que tem assolado o país nos últimos tempos. E que, devemos reconhecer, de uma forma ou de outra tem sido divulgado e até apurado, apesar das contrariedades eclodidas nos meios governista e oposicionista.

Se pensarmos bem, não se fala mais agora em desvios indevidos de recursos públicos da ordem de R$ 500 mil ou no máximo R$ 1 milhão. Fala-se comumente em milhões, às vezes até em milhões de dólares. Na irrefutável demonstração de uma avidez sem limites.

O cidadão casado, com um filho pequeno, que tenha casa própria e uma renda familiar em torno de R$ 17 mil (ele e a esposa), durante um bom tempo terá uma vida bastante confortável se receber como herança, ou acertar na loteria, a quantia de R$ 300 mil. Desde que durante esse bom tempo seus gastos sejam frugais e comedidos como sempre. Se o mesmo cidadão conseguir por meios lícitos ou ilícitos a quantia de R$ 1 milhão, terá seguramente alcançado a sua independência, se prosseguir gerenciando a sua vida financeira como fazia quando sua renda era de R$ 17 mil.

Então, na verdade R$ 1 milhão é muito dinheiro. Não é preciso ter mais. Ocorre que se um figurão conseguiu apurar R$ 10 milhões num esquema qualquer da Lava Jato ou do Mensalão, não vou me contentar com R$ 800 mil, se faço parte do terceiro ou quarto escalão da equipe. Na hipótese de eu ter a função de assessor direto desse figurão, a minha expectativa ficará em torno de R$ 3 milhões, no mínimo.

Ou seja, um ilícito pode levar a outras possibilidades de ilícitos.

Esses casos de corrupção são desastrosos porque sugerem às pessoas, se não houver a punição dos responsáveis, que a malversação do dinheiro público ou a sua obtenção criminosa torna-se agora o meio mais indicado para obtermos a nossa independência e vivermos tranquilamente. Com seus devidos reflexos nas camadas inferiores da população, atuando como estímulo aos mais variados tipos de crimes.

Pois, se nas irregularidades cometidas pelas pessoas de colarinho branco, paletó e gravata a expectativa da receita nunca é inferior a milhões de reais, nós aqui embaixo não precisamos almejar tanto com as nossas ações.

Por isso a impunidade é um mal de alta corrosão. Pois colabora com a destruição rápida dos valores éticos e morais cuja observação por todos representa o equilíbrio necessário à vida da nação. Como à própria vida pessoal.

Seria imprescindível que esses casos fossem todos apurados, independentemente da importância das pessoas envolvidas, e que seus responsáveis fossem punidos exemplarmente com todo o rigor da lei. Para que esse tipo de atitude não servisse de estímulo a práticas semelhantes por parte de outros segmentos da população, respeitadas as óbvias diferenças sociais.

Reportemo-nos de novo à Indonésia. Depois da condenação à morte dos dois brasileiros que tentaram entrar nesse país com certa quantidade de drogas, é possível que nenhum outro brasileiro, pelo menos por enquanto, tenha motivação para a mesma iniciativa.

Rio, 13/08/2015

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 06/10/2015
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