Ingresias

INGRESIAS

Eu tive uma doméstica, coitada, gente boa, de ótimo coração, trabalhou comigo muitos anos, era inimiga das letras, falava mal e criava expressões que a gente tinha o que pensar no que ela queria dizer. Quando aparecia alguém falando, ou tentando usar palavras estrangerias, ela se queixava, esse aí está falando ingresias. Falar em inglês, para ela, era cometer ingresias. Então tá...

Há uns dois anos, ou mais, escrevi estrangeirismos nos espaços onde tenho coluna sobre o uso irracional das palavras estrangeiras. Hoje, os “coxinhas”, especialmente os que frequentam as redes sociais e os jornais virtuais abusam das palavras de origem norte-americana usam o inglês como se todo o mundo dominasse – o que nem eles fazem – a língua de Skakespeare. Fui professor de inglês, mas não aturo esses exageros. Assim aparecem, entre outras, excrecências como, o airbag, banner, byke, blog, bulling, checklist, cookies, cupcake, delay, dreads, fail, fake, fashion, fastfood, feeling, foodtruck, hashtag, login, look, making off, meme, nice, nonstop, nude, offroad, offshore, outlet, pocket-show, prime, quiz, rave, release, soft, teaser, timeline, top, tube, truck, vintage, vlog, workaholic, workshop, etc.

A cada dia que passa essas expressões se avolumam e despertam o temor das pessoas porque é uma invasão inadequada, ridícula e despropositada, pois confunde as pessoas, leva às crianças expressões estrangeiras, frases e palavras bobas, desnecessárias à nossa língua, pois todas elas têm tradução em nosso vernáculo. Não sei onde essa explosão de ingresias vai nos levar. É coisa de macaco, pois, repetir coisas de gringo quando tem equivalente nacional, não está com nada. É coisa de gente – e como tem – de cabeça fraca. Vi na tevê uma propaganda de uma escola de inglês: “Vamos fazer do Brasil um país bilíngue”. Pode uma coisa dessas? Um amigo me escreveu sobre o assunto. Segundo ele, nossos jovens sabem inglês, mas não dominam o português. Ele rejeita essa inversão do jeito que ocorre.

Na elaboração de uma prova de redação deve ser aferida a capacidade que o candidato tem de redigir, para ser burilada posteriormente na universidade e não saiam futuros profissionais que cometam atrocidades como se enxerga por aí, em receituários, petições, relatórios, sentenças, despachos ou memoriais descritivos. Na formatação da redação deste ano, aconteceu uma represália à juventude que não lê, contra as famílias que não semeiam cultura ou aos “cursinhos” que são superficiais nessa área. O pessoal sempre se acostumou a temas banais, dos jornais do ano inteiro, ou então como era no passado, quando inseriam nas redações temas como o cachorro do Fantasma ou o cavalo do Zorro.

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