Só vale a verdade

“Concepção clara de uma realidade, princípio certo e verdadeiro, juízo ou proposição que não se pode negar racionalmente, conformidade do que se diz com o que se sente ou se pensa”. Estas e outras definições se referem ao termo “verdade”, conforme preconiza o dicionário da Língua Portuguesa. Ocultar a verdade é fato comum na infância e início da adolescência, quando ainda não se consolidou por completo o caráter do ser humano. Mas os homens públicos desse País (incluem-se nesse rol algumas representantes do sexo feminino) se utilizam desse expediente com frequência, num vale-tudo coloquial em que os “rounds” se sucedem, expondo a total falta de percepção acerca da relevância da função que exercem. Num passado de triste lembrança, um candidato utilizou-se desse expediente vil para menosprezar seu adversário e acabou procrastinando as aspirações do “sapo barbudo” (termo depreciativo utilizado para desqualificar o interlocutor, à época) ao Palácio do Planalto. O castigo veio a cavalo, com o mentiroso apeado democraticamente do poder por suposto envolvimento com corrupção (posteriormente o Supremo Tribunal Federal julgou improcedente aquela ação penal por falta de provas). Mais de duas décadas depois, agora investido do cargo parlamentar, o senador é alvo de investigações por suspeita de participação em ilicitudes, semelhantes àquelas de quando comandou a nação.

Nos dias atuais, a mentira acompanha nossas maiores autoridades. De um lado, o presidente da Câmara dos Deputados mostrando ser muitíssimo bem articulado (alguns o qualificam ainda como mal intencionado) e de outro, a Presidente da República tentando desacreditar a todo custo seu desafeto. Ambos são acusados de mentir no caso do suposto apoio de parlamentares na Comissão de Ética daquela Casa Legislativa e o entrevero permanece nebuloso, sem poder se quantificar quem foi o maior mentiroso na história. Apesar de que, entre as virtudes do referido parlamentar não figurar a verdade (vide o escândalo das contas secretas no exterior, não declaradas à Receita Federal), a chefe do executivo federal também demonstra fazer uso desse mau costume, dando a entender que essa é uma prática recorrente adotada pela maioria daqueles escolhidos para representar o povo. Sua Excelência mentiu descaradamente (e continua mentindo) quando garantiu a solidez das finanças do país, induzindo deliberadamente o eleitor a acreditar em sua frágil proposta de governo.

A verdade também deixou de prevalecer em solo paranaense, pelo menos temporariamente, até que se esclareçam os fatos. O Secretário da Fazenda e o Presidente do Tribunal de Justiça resolveram trazer suas divergências a público, cada qual defendendo suas posições, inerentes às atribuições que lhes foram confiadas. O titular da pasta do executivo garante que algumas centenas de milhões de reais estariam depositadas em contas do Judiciário, enquanto o governo estadual amarga dificuldades imensas para cumprir com os compromissos assumidos. A resposta veio à altura dos números astronômicos apresentados: “É uma inverdade, uma mentira”. Ao cidadão comum resta a indignação, diante dessa demonstração explícita de suposta independência em gerir os recursos públicos, sabidamente fruto do suor do contribuinte.

Vê-se, portanto, que a mentira acompanha as relações interpessoais no cotidiano das pessoas, independente de classe social, etnia ou credo religioso. Muita gente já foi pega na mentira do “Tremendão” Erasmo Carlos, que com muito bom humor ironiza em sua música, os que caem na tentação. Ou ainda, naquela passagem bíblica, no momento em que somos todos instados a trilhar os caminhos retos: “A verdade vos libertará” (João, 8:32).