Zica “coisa de pobre” bate à porta dos ricos

Os mais ricos herdarão a Terra. Que já é deles, diga-se de passagem.

A vantagem competitiva? Ter sempre à mão uma boa dispensa com medicamentos, além de médicos competentes. Há um monte de políticos imortais aí para não me deixar mentir.

Digo parcela da população porque podem comprar remédios de ponta, que funcionam e têm poucos efeitos colaterais, por exemplo. Sucesso garantido graças a exigentes testes realizados à exaustão pelas maiores indústrias farmacêuticas do mundo em milhares de “voluntários'' de classes sociais mais baixas.

Afinal, testes de medicamentos envolvendo gente pobre na África que os olhos não veem, o coração não só não sente como agradece.

E quando uma pessoa que tem acesso a recursos privados de saúde fica ruim, há chance maior de cura do que alguém que depende de si mesmo, do poder público e de suas filas. Não me excluo dessa, pois tenho acesso a bons médicos e conto com um bom plano de saúde que já me tiraram do Cabo da Boa Esperança uma série de vezes.

Se a saúde não fosse tratada como um grande negócio global, mas como um direito humano realmente tutelado pela comunidade internacional, a palavra “prevenção'' sairia da frieza dos dicionários e evitaria que algumas coisas saíssem do controle.

Ou seja, que doenças pudessem ser tratadas com a gravidade que merecem quando ainda são "coisa de pobre".

O problema é que, mais cedo ou mais tarde, alguma “coisa de pobre'' bate à porta dos ricos. Foi assim com o pânico do ebola, como já tratei neste espaço, e está sendo assim com a zika.

Pois, às vezes, vírus e bactérias cismam em ignorar regras sociais e, sem reconhecer quem são os eleitos pela vida, fazem estragos.

Leonardo Sakamoto