A PREVIDÊNCIA SOCIAL E O ABANDONO DA TERCEIRA IDADE

Artigo/sociedade/opinião

Aos HOMENS "provedores" das soluções:

O meu tema não é novo, é até redundante, todavia, dada à sua importância nos nossos cenários político e social, sua discussão se faz muito presente nesse momento em que a gestão do país nos noticia que, em pouco tempo, não haverá como prover benefícios de aposentadoria aos cidadãos trabalhadores brasileiros na atual formatação dos direitos trabalhistas consolidados.

Tal... depois de treze anos de legendas trabalhistas em nobres brados ao respeitável trabalhador!

Talvez precisemos, pelas notícias que correm, “desconsolidar” nossa História...trabalhista, o que seria lamentável num país que tanto preza os autores do TRABALHO, ao menos em histórica teoria.

Muito bem, não é difícil entender que o mundo é outro, que o planeta aumentou a expectativa de vida (para nós em anos, não necessariamente acompanhada da qualidade de vida); o difícil é entender que um país que foi subtraído “corruptivamente “ de suas finanças para todos os lados, hoje venha nos contar que o dinheiro PRIORITÁRIO sumiu a colocar a conta no bolso da terceira idade.

Mas... meu assunto é outro: é o já presente e notório abandono dos idosos, em número, gênero e grau...esse último bem no superlativo.

Minha vontade de dissertar sobre o assunto, paralelamente alavancada pelo nosso caos social que não poupa ninguém muito menos a população idosa que cresce velozmente (tida como 60 anos em países em desenvolvimento, 65 nos desenvolvidos, e não sei lhes dizer qual seria a idade nos países em involução!), e esse meu texto também se deve à fala do nobre MINISTRO DA SAÚDE que ontem, num equívoco duma visão sócio- sanitária algo míope, nos disse à Nação, baseado numa pesquisa sei lá donde, que a saúde pública brasileira precisa priorizar os HOMENS, porque trabalham mais e são provedores.

Vixi...e o meu “vixi” não é feminismo, pelo amor de Deus.

Está para nascer uma ideologia que me tenha como fanática pela sua causa...

Meu "vixi" é humanismo perplexo, frente ao meu dia a dia profissional.

Interessante que a verdade sobre o tema SOCIOLÓGICO é justamente a ANTÍTESE do que nos foi dito, e claro, logo a gestão Nacional se desculpou via imprensa dizendo que o Ministro se baseou numa estatística já inválida, sendo que, a meu ver, o remendo nos ficou pior que o soneto.

Somos péssimos em estatísticas mesmo...e tal dado, ao contrário de muitos, tem estatística confiável.

Ao ministro, seguem alguns dados tirados da realidade sobre o triste estado da nossas arte sociológica:

As mulheres, principalmente as idosas, hoje são, na sua maioria e nas classes menos favorecidas, as provedoras das famílias! De inúmeras delas! É de fazer nó num coração de poeta...

Mulheres mais jovens, com jornadas duplas, triplas, afora a extenuante jornada do lar, cuidam de tudo, inclusive dos homens, e ainda levam seus maridos, culturalmente negligentes com a saúde, aos postos do SUS para fazerem check-ups indicados por elas...

Mulheres que envelhecem biologicamente bem além da sua idade cronológica, é bom que se diga! Que é para melhor nos planejarmos para as reformas previdenciárias doutas e tão sonhadas...

Pelo nosso território nacional, em escala crescente, idosas com proventos de salário mínimo sustentam famílias de duas gerações aos montes...claro, as que tiveram a sorte de conseguir proventos previdenciários que não chegam a trinta reais por dia, e que hoje, dado o impacto da corrupção que gerou a inflação que nos dilapidou, sequer pagam um café da manhã para uma família de quatro pessoas.

Querem que conto mais? Vou contar o que vejo não com os olhos dos outros:

Assim , essas idosas, mulheres a beira dos setenta anos ou mais, hoje trabalham como diaristas...são muitas! para complementarem seus benefícios tão parcos, a despeito das dores dos ossos e da alma.

A pergunta: Gente do céu, como planejar o SUS e a Previdência Social no panorama nacional, sem uma visão clara do nosso momento tão abandonado de Brasil?

Ou os gestores do dinheiro acreditam que chegaremos saudáveis e felizes ao sessenta e cinco anos para começarmos a desfrutar os parcos proventos do trabalho duma vida, em meio à qualidade de vida cada vez mais decrescente entre nós?

Ara, acorda gente dos rumos perdidos!

Respondo no que tange à saúde pública: a ampliação “ da visão” do conceito de SAÚDE, aquele da OMS, LEMBRAM?- por aqui...esqueçam! posto que precisa ser direcionada ampla e conceitualmente a todos as idades e gêneros, ok?

Aos idosos então...seria chover no molhado do tempo pelos nossos dias áridos em tudo!

É super simples a dedução de que, nesse momento , SOMOS UMA LEGIÃO DE DOENTES de TODAS AS IDADES.

Os nobres gestores duvidam? Ok.

Então, façam um estágio observatório sem lupas de uma semaninha numa unidade de atendimento Básico do SUS (estão todos convidados, só não vai ter cafezinho dado o alto custo!) e verão o quanto o melhor e maior sistema de saúde pública do mundo tem dificuldades em acolher doentes, na versão mais ampla e TÉCNICA de saúde.

Sairão dali, os mais sensíveis, com um pacto anti-corrupção em seus corações.

E nem falo só nos números: falo na organização e na estratificação das gestões TÉCNICAS multidisciplinares.

Tempos difíceis...em que a política passional despreza o conhecimento e as evidências científicas, inclusive numa ciência chamada gestão do todo.

O nosso principal apagão é o de gestão, e faz muito, muito tempo...viu?

Precisamos de técnicos responsáveis e comprometidos com o país, único caminho para resolvermos em conjunto nosso momento sócio- sanitário tão triste e abandonado.

Com saúde otimizada, com a qualidade de políticas públicas aprimorada, com menos cidadãos dependentes do Estado, daí sim poderíamos começar a pensar no óbvio, em aliar expectativa com qualidade de vida a fazermos nossas necessárias reformas DE PRIMEIRO MUNDO num âmbito de JUSTIÇA SOCIAL, a tão cantada entre nós (por enquanto, só teórica, por aqui!).

Enquanto isso, cresce nosso compêndio de sonetos desandados, de rimas vazias, de versos brancos, declamados ao vento das ineficiências sociais assustadoras, de rimas amadoras aos sonetos nos quais nenhum remendo incompetente se sustenta, nem mesmo nas estatísticas estapafúrdias que pouco retratam nossa vida em tempo real.

Do jeito que estamos caminhamos para o estágio duma empresa falida financeira e humanisticamente, a que tão insensivelmente transforma pessoas num passivo social sem qualidade e perspectiva de vida, e o mais triste, sem a evidência de soluções viáveis.