Talvez sordidez

Não será nenhum absurdo considerarmos que a política é sórdida porque envolve dinheiro e poder. Primeiro o poder, para continuarmos a ganhar dinheiro. Ou o dinheiro, para podermos comprar o poder. Com os dois podemos fazer quase tudo que aos outros não é permitido.

Há uma compulsão natural do ser humano pela sordidez. Entendida aqui como o uso abusivo de práticas não comuns que possam conduzir a fetiches ou sensações prazerosas relacionadas a sexo, tortura, rancor, desperdício, orgia, consumo de alucinógenos, enfim tudo o que as pessoas comuns não fazem. Ou que só pode ser feito às escondidas.

Daí a existência de seitas, associações ou grupos secretos, ainda que, quando possível, mantidos dentro de instituições pretensamente religiosas com seus diferentes tipos de credo.

Em geral, tratam-se de práticas que permitam a seus praticantes uma sensação de liberdade em torno do que é usualmente proibido a quem não tem dinheiro ou poder. A ganância, o egoísmo, a insaciabilidade, o hedonismo são dispositivos certamente já presentes no nosso DNA, aguardando condições de entrarem em ação. O que ocorre quando estamos acima de qualquer questionamento a não ser de nós mesmos. Tornando-se mais comumente possível quando temos poder e vultosas somas ao nosso dispor.

O conjunto desses dois fatores – dinheiro e poder – pode fazer com que descubramos potencialidades que não sabíamos que tínhamos. Dentre elas, e ironicamente, o enfraquecimento da vontade individual que seria proporcionado pelo luxo.

Mas a luta desesperada pela manutenção dessas condições tende a nos levar a comportamentos ultrajantes que jamais pensávamos ter e muito menos motivos para se orgulhar. O que leva políticos, por exemplo, a fazerem de tudo para conquistar e depois permanecer no poder.

Mas não temos o direito de aqui achar que as pessoas não devem procurar o prazer. Desmedido e incomum. Que só pode ser encontrado com muito dinheiro e poder. Depende de cada um. Cada pessoa deve tomar o remédio que acha que cura.

Rio, 23/10/2016

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 24/10/2016
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