E OS COMUNISTAS?

E OS COMUNISTAS?

Antônio Mesquita Galvão

“Quando alimento os pobres me chamam de apóstolo;

quando pergunto por que existe pobreza me chamam de

comunista”

(Dom Helder Câmara)

É curioso ver a desinformação sociopolítica e histórica dos freqüentadores das redes sociais. E não só os jovens “coxinhas”, barbudos de cabeça pelada, mas também muito tiozinho taludo. Antigamente na década de cinqüenta eram os padres que tachavam todo mundo de comunista. Depois veio a ditadura (1964-1985) que distribuiu a pecha de “subversivo” a tantos quantos queriam expurgar. Tinha gente que não comia caviar nem bebia vodca, pois era coisa de russo, e podia trazer na essência algum vírus soviet. Mais tarde, com a queda do muro de Berlim e a conseqüente derrocada do comunismo soviético, as idéias dos vermelhos foram para o total ostracismo.

Agora com a efervescência do impeachment da Presidenta Dilma, o rótulo voltou à baila. Muitos posts, a maioria deles apócrifos ou de autores duvidosos, alertavam que a juventude deveria banir os partidos ditos “comunistas” votando contra, execrando e eliminando a ameaça “soviética” ou cubana. Quando lecionei “Ciência Política” numa universidade da Região Metropolitana e já se falava no fim do comunismo como doutrina prática, só restando as idéias filosóficas de um socialismo nascido na Grécia e que perpassa a história moderna, como premissa teórica. Antes de o marxismo fracassar havia o comunismo soviético dos gulags, o radicalismo em Cuba (Fidel Castro), as idéias rígidas do PC Albanês e as premissas do Mao (China) e dos ditadores da Coréia do Norte. Esses dois são os últimos núcleos da doutrina até hoje, mesmo assim a China já negocia com o Ocidente, inaugura shoppings e bebe Coca-Cola. O evangelho sempre foi de “esquerda”, por isto seu criador morreu na cruz. O “vai, dá tudo o que tens aos pobres...” é socialista. Agora no debate pré-eleitoral no Rio, um candidato passou mal e seu pai, ali presente, um ultra-radical não permitiu que uma médica “comunista” socorresse o rapaz. Ainda há remanescentes dessa burrice. Escutei um Mané tupiniquim dizer que Obama é comunista. O terror ao comunismo impediu o Brasil de ter dois “Nobel da Paz”: Dom Helder e Chico Mendes. Seis nomes não foram chancelados porque o Brasil (ditadura e CNBB) não queria “comunistas” recebendo a honraria.

Com o esfacelamento do regime cubano só restou o “socialismo moreno” latino-americano da Venezuela, do Equador e outras republiquetas de opereta. Com isto, volto ao que dizia aos meus alunos no século passado: comunismo não existe mais! É peça de museu, como o livro de Marx, “O Capital” que antes era proibido e hoje rola nas bibliotecas e livrarias. Para a juventude é romântico e utópico falar em marxismo, mas ninguém quer socializar nada e todos querem carro do ano, fazer lanche no MC Donald’s e veranear em Garopaba. O comunismo como doutrina prática não existe mais, foi superado pela ideologia do mercado. Assim entendo que os politicamente ignorantes devem descobrir outras formas de injuriar seus opositores, pois comunista é uma coisa que não existe mais. Graças a Deus estamos numa democracia!

O autor é Filósofo, Escritor e Moralista.