A propaganda do terror

Infelizmente talvez tenhamos que acompanhar, em relação ao Brasil, aquilo que já disseram a respeito do Terceiro Mundo. Trata-se de uma “ilha de grande riqueza e privilégio num mar de miséria e sofrimento”. Prevalecendo, na verdade, como também já observaram, dois Brasis: o das classes abastadas e o das categorias inferiores, em número muito maior, vivendo praticamente sob penúria permanente, em alguns casos até abaixo da linha de pobreza.

É o que se pode comprovar agora com essas lamentáveis demonstrações de barbárie, em presídios de Manaus e Roraima, na retratação de um sistema prisional totalmente falido. Se, dentro do nosso território, não temos condições de gerenciar com um mínimo de ordem um prédio destinado à detenção de variados tipos de presos, de alta periculosidade ou não, como podemos vigiar e manter incólume a nossa fronteira em toda a sua extensão? Que não é pequena.

Esses acontecimentos são também uma espécie de atestado da fragilidade do país. Os detentos fazem o que querem dentro de determinados presídios onde é absoluta a falta de controle a cargo das autoridades constituídas. É a conclusão a que podem chegar as nações vizinhas e as que, bem mais desenvolvidas, nos observam um pouco mais ao longe, sempre cientes das nossas potencialidades enquanto detentores de expressivas riquezas naturais.

Não é o caso de se defender, nesse ou em nenhum momento, a pena de morte. Mas ela seria um instrumento muito mais lícito, ou talvez higiênico, que essas bárbaras atrocidades, que vêm assustadoramente se multiplicando a ponto de se tornar uma rotina nessas ações propagandísticas do terror. Sem falar no caso de que muitos dos assassinatos covardes tiveram como vítimas pessoas que estavam presas, por exemplo, por falta de pagamento de pensões alimentícias.

Podemos ainda ouvir, aqui e ali, que “bandido bom é bandido morto”. Um pensamento de tendência totalitária ou fascista que nada em absoluto resolve. Porque prioriza-se o efeito, não a causa. Matamos as baratas, mas se não eliminarmos o foco, elas reaparecerão. Mas qual o contraponto a isso, a ser oferecido por uma atitude mais progressista? Onde está, por exemplo, a nossa esquerda, pretensamente sempre mais próxima da causa social e que talvez pudesse oferecer uma contribuição de peso nessa hora, mas que parece mais um componente esfacelado dentro de um sistema político apodrecido?

O que o gato não comeu?

Rio, 09/01/2017

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 27/01/2017
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