E assim estar a humanidade

Tenho acompanhado pelas redes sociais a repercussão da morte da ex. primeira dama dona Mariza Letícia, esposa do Luiz Inácio Lula da Silva que exerceu o cargo de presidente da República do Brasil por dois mandatos. E o que me surpreendeu foi a fúria, daqueles que a defendem, e principalmente daqueles que a atacam. Em um clara demonstração de ódio, pessoas pertencentes as classes sociais privilegiadas se vangloriam da morte daquela senhora, ainda relativamente jovem. E nesse segundo grupo há um procurador de justiça, um médico especializado em um ramo sofisticado da medicina, enfim, gente classificada como fina, que em tese seria mais capacitada para compreender a face mais sombria da natureza humana. A morte é o grande mistério da vida ,e que sempre mexeu com as nossas especulações, poéticas e filosóficas. O poeta Manoel Bandeira sobre a morte, disse que ela era a indesejada das indesejadas. Para Vinícius de Morrais, é a angústia de quem vive. Já o filósofo Emil Cioram achava que quem não via a morte da cor rosa sofria de um daltonismo no coração. Porém, eu fui buscar no poeta francês Charles Baudelaire uma explicação para esse comportamento tão distante de um compromisso com a civilidade e com o humanismo. É o poema, A morte dos pobres.

"A Morte é que consola e nos faz viver;

É o alvo desta vida e a única esperança

Que, como um elixir, nos dá fé e confiança,

E forças para andar até o anoitecer.

Em meio à tempestade e à neve a se desfazer,

É a luz que em nosso lívido horizonte avança;

É a pousada que um livro diz como se alcança,

E onde se pode descansar e adormecer.

É um Arcanjo que tem nos dedos imantados

O sono e eterno e o dom dos sonhos extasiados,

E arruma o leito para os nus e os desválidos;

É dos Deuses a glória e o místico celeiro,

É a sacola do pobre e o seu lar verdadeiro,

O pórtico que se abre aos Céus desconhecidos".

Soleno Rodrigues
Enviado por Soleno Rodrigues em 05/02/2017
Reeditado em 06/02/2017
Código do texto: T5903549
Classificação de conteúdo: seguro